TÍTULO DO SIMPÓSIO:
Vozes femininas decolonizadoras
PROPONENTES:
Tatiana Fantinatti (UFBA) - tatianafantinatti@gmail.com
Leonardo Vianna (UFRJ) - leonardoviannads@gmail.com
Tatiana Fantinatti (docente UFBA)
Nas obras literárias de escritoras italianas de origem africana têm se evidenciado ao menos dois escopos em comum, o de denunciar o racismo em todas as suas nuances e o de mostrar que o contato com culturas imigrantes enriquece as sociedades italianas. Neste trabalho me ocuparei desses dois objetivos, especialmente do primeiro. Através de personagens que envergam características e vivências de suas próprias autoras ou de imigrantes da diáspora africana na Itália, são revelados os mais diferentes e matizados tipos de racismo, os quais convocam a investigação em vários campos de estudo. Essa pluriviolência vindo à tona, por um lado enfada e desacomoda a parte da sociedade italiana que segue ignorando o passado colonial italiano e o lastro que dele advém; por outro, desperta a atenção para o problema da falta de políticas públicas para minorias e de representatividades étnico-raciais na Itália. As relações entre as personagens da obra de ficção narrativa Negretta baci razzisti (2020), de Marilena Umuhoza Delli, escritora italiana de origem ruandesa, proporcionam a percepção de como o colonialismo praticado por vários países deslegitimou as identidades dos corpos negros (RIBEIRO, 2019), tanto nos vínculos estabelecidos entre personagens brancas e negras quanto entre personagens negras entre si. A obra em questão traz o ponto de vista de uma personagem negra que enfrenta a violência racial em vários níveis institucionais de uma sociedade discriminatória e preconceituosa, na cidade de Bergamo, Norte da Itália, nos anos 1990. Desvelando os nano racismos (MBEMBE, 2016) diluídos em frases “distraídas” e “inconscientes”, que perpetuam um humor generalizado sobre estereótipos absorvidos na normalidade ardilosa, pensada de forma tática para manter definida a separação racial, as personagens de Marilena Umuhoza revelam os danos morais padecidos, seja pelo racismo institucional, seja pelo racismo recreativo (MOREIRA, 2019), gerando impactos em suas próprias realidades e na de seus descendentes. Dentre tais repercussões, vemos a pobreza, o isolamento social e o apagamento, por parte das próprias personagens, de seus fenótipos e de seus traços culturais. O livro traz, de modo ficcional, relatos do mémoir Razzismo all’italiana (2016) publicado anteriormente pela autora. Em Negretta baci razzisti temos vidas reais transformadas em personagens de ficção. Nosso intuito é o de salientar, nessa obra, o impacto nefasto da sociedade discriminatória na relação entre as personagens sejam elas reais ou fictícias. Além disso, objetivamos também denunciar para transformar e evidenciar o enriquecimento da Itália e de sua literatura a partir do contato com outras culturas.
PALAVRAS-CHAVE: Racismo, Decolonização, Relações Étnico-raciais Italianas
REFERÊNCIAS:
CANDIDO, Antônio, ROSENFELD, Anatol, PRADO, Décio de Almeida Prado & GOMES, Paulo Emílio Salles. A Personagem de Ficção. São Paulo: Editora Perspectiva, 1976
CAMILOTTI, Silvia. CRIVELLI, Tatiana. Che razza di letteratura è? Intersezioni di diversità nella letteratura italiana contemporanea.Venezia: Edizioni Ca’ Foscari – Digital Publishing, 2017
DELLI, Marilena Umuhoza. Negretta, baci razzisti. Roma: Red Star Press, 2020
MBEMBE, Achille. Nanorazzismo, il corpo notturno della democrazia. Edizione digitale. Roma: Laterza, 2019
MOREIRA, Adilson. Racismo recreativo / Adilson Moreira. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen, 2019.
RIBEIRO, Djamila. Lugar de fala. São Paulo: Pólen, 2019.