TÍTULO DO SIMPÓSIO:
Trânsitos e traduções pela literatura e cultura italianas
PROPONENTES:
Erica Aparecida Salatini Maffia (UFBA) - ericasalatini@gmail.com
Lucia Wataghin (USP) - luciawataghin@gmail.com
Patricia Peterle (UFSC) - patriciapeterle@gmail.com
Diego Cervelin (doutor UFSC)
Dante Alighieri, nas páginas do tratado De vulgari eloquentia [I, IX, 6], além de poeta, também se transformou em pensador do factum loquendi ao apresentar uma concepção de língua que assinalava certa distância da origem enquanto referencial plenamente acessível: em relação aos falantes que viveram depois de Babel, já não haveria que se falar em confusão das línguas, mas em esquecimento da língua primeira. Na obra de Haroldo de Campos, esse lapso inscrito na falação humana parece ter encontrado um capítulo não menos importante na proposição da transcriação como possibilidade de transformar um original na tradução de sua tradução. Na medida em que se destaca de uma concepção meramente comunicativa da língua, tal operatividade comporta um pensamento em torno da “informação estética” (CAMPOS, 1998, p. 67). Sem perder isso de vista, Haroldo de Campos – assim como Andrea Zanzotto – tampouco deixou de estar atento às pontuações de Jacques Lacan em torno dos desdobramentos do encontro sempre faltoso entre os corpos e os elementos mais materiais da língua, os quais, retomados através do conceito de “lalíngua” (LACAN, 1985, p. 189) vicejam no esquecimento da língua primeira. Diante disso, não sem lembrar que uma das primeiras definições dadas por Sigmund Freud ao recalque (aspecto central nas neuroses) era “falha da tradução” (FREUD, 2016, p. 37), este ensaio pretende fazer confluir os exercícios de estilografia possibilitados pela transcriação como uma prática que toca algo do corpo – como aisthesis, portanto – na medida em que também mobiliza os atravessamentos de lalíngua.
PALAVRAS-CHAVE: Factum loquendi, Transcriação, Estilografia, Lalíngua
REFERÊNCIAS:
ALIGHIERI, Dante. De vulgari eloquentia. In: ___. Opere. Vol. 1 (com organização de Claudio Giunta, Guglielmo Gorni, Mirko Tavoni). Milão: Arnoldo Mondadori, 2011, pp. 1125-1547.
CAMPOS, Haroldo de. Pedra e luz na poesia de Dante. Rio de Janeiro: Imago, 1998.
____. O afreudisíaco Lacan na galáxia de lalíngua. In: O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010, pp. 227-248.
FREUD, Sigmund. Carta a Fliess 112 [52]. In: ___. Neurose, psicose e perversão. Tradução de Maria Rita Salzano. Belo Horizonte: Autêntica, 2016, pp. 35-45.
LACAN, Jacques. O seminário. Livro 20 – mais, ainda. Tradução de M. D. Magno. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.