TÍTULO DO SIMPÓSIO:
Trânsitos e traduções pela literatura e cultura italianas
PROPONENTES:
Erica Aparecida Salatini Maffia (UFBA) - ericasalatini@gmail.com
Lucia Wataghin (USP) - luciawataghin@gmail.com
Patricia Peterle (UFSC) - patriciapeterle@gmail.com
Patricia Peterle (docente UFSC)
A proposta dessa comunicação é pensar a tradução como um perpassar e vivenciar duas (ou mais) línguas significa, cair no vórtice que esse próprio gesto produz. Pretende-se pensar esse espaço do fora, esse espaço marcado pela presença do outro. Nos últimos anos, por meio de ensaios, orientações e publicações de traduções de livros de poesia e de traduções em revistas e jornais, venho desenvolvendo um trabalho de filigrana concernente à divulgação da poesia italiana. Uma tarefa árdua por lidar com um pequeno nicho que é aquele do poético. Nesse sentido, é preciso considerar as lacunas existentes na relação entre os dois sistemas culturais envolvidos, apesar de seu forte entrelaçamento histórico. Refletir sobre um texto, por meio dessa confluência, significa escolher instrumentos e potências para adentrar, penetrar e fazer (per)viver o corpo e a voz do poema – mesmo que com alguns desvios. Nessa perspectiva, entende-se o gesto de tradução como um acontecimento no espaço do “entre”, uma experiência que se dá na-da-pela-língua e, portanto, um lugar de alteridades e de eticidade. Em Limiares, Franco Rella afirma que a “arte em geral e a poesia em particular sempre pressupõem o ‘tu’”, ou seja, pressupõe um fora, um outro. Considerando, portanto, esse fora e esse outro a partir do gesto tradutório, pretende-se discutir alguns movimentos de aproximação e distanciamento. Por conseguinte, se escrever, para lembrar Deleuze (1997), não é a imposição de uma forma, mas é a exposição da potencialidade da matéria vivida – e daí o inacabado e o informe como traços inseparáveis do devir inerente à escrita –, a tradução pode ser pensada também como uma exposição de potencialidades, um devir sempre outro. Para muitos poetas, de Dante a Zanzotto, a tradução poética beira o impossível, não somente por todas as evocações ativadas a partir de um simples timbre, pelo “enlace musaico”, pela língua que cada poeta (re)cria ao entrar numa ordem poética que impõe justamente distorcer o valor da palavra. Nesse sentido, se a escrita poética demanda pela invenção de uma língua, a tradução por sua vez também exige uma reflexão sobre esse singular modo de ser.
PALAVRAS-CHAVE: Poesia Italiana, Gesto Tradutório, Divulgação, Alteridade
REFERÊNCIAS:
DELEUZE, Gilles. Crítica e clínica. Trad. Peter Pál Pelbart. São Paulo: Editora 34, 2011.
JACQUES, Marcelo. Sobre a forma, o poema e a tradução. Rio de Janeiro: 7Letras, 2017.
PETERLE, P. Uma experiência entre línguas: traduzindo Enrico Testa. Remate de Males, Campinas, SP, v. 38, n. 2, p. 763–790, 2018. DOI: 10.20396/remate.v38i2.8652418. Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/remate/article/view/8652418. Acesso em: 13 jun. 2021.
RELLA, Franco. Limiares. Trad. A. Santurbano, P. Peterle. Rio de Janeiro: 7Letras, 2021.