TÍTULO DO SIMPÓSIO:
O lugar da palavra: história, política, sociedade em tradução
PROPONENTES:
Aislan Camargo Maciera (USP) - aislan@usp.br
Aline Fogaça dos Santos Reis e Silva (UFRGS) - alinefogacareis@gmail.com
Gesualdo Maffia (ICIB) - gesualdo.maffia@gmail.com
Milena Vargas dos Santos Ferreira (mestre UFRJ)
Em um mundo que valoriza uma multiplicidade de narrativas de si (seja nas mídias sociais, seja na valorização do sujeito-autor com biografias elaboradas e cheias de detalhes nas capas dos livros), o surgimento da autora-personagem Elena Ferrante representa uma quebra de expectativa no leitor, que precisa construir a partir de outros discursos, disponibilizados fora dos espaços convencionais, as hipóteses de leitura para seus livros. Ferrante não existe de outra forma a não ser na diversidade de projetos discursivos que propõe aos seus leitores (livros de ficção, livros de ensaios, artigos em jornal, entrevistas concedidas), e performa sua subjetividade em cada uma dessas obras, adequando-se ao deslocamento das novas maneiras de compreensão das relações entre verdade e mentira, ficção e realidade. É impossível determinar um “quem” fidedigno que a descreva, o que nos leva a inseri-la (e também a suas narradoras) na reflexão sobre o “vazio de sujeito autônomo” feita por Arfuch (2010). Sobretudo, impressiona que as narradoras de Ferrante falem sempre a partir de uma confusão identitária e existencial que se relaciona com a existência de um outro (a mãe, o marido, a melhor amiga, uma mulher desconhecida na praia, a tia), de modo que sua proposta literária parece se desenvolver dentro de um escopo político: em pauta, não apenas questões importantes e contemporâneas sobre a experiência da mulher e a defesa da morte do autor barthesiana (2004), mas uma crítica à ideia de unidade do sujeito (CAVARERO,1997) e à própria espetacularização que a alçou ao sucesso internacional como escritora.
PALAVRAS-CHAVE: Literatura Contemporânea, Literatura Italiana, Narrativa, Subjetividades
REFERÊNCIAS:
ARFUCH, Leonor. O espaço biográfico. Dilemas da subjetividade contemporânea. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2010.
BARTHES, Roland. O rumor da língua. Trad. Mario Laranjeira. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CAVARERO, Adriana. Tu che mi guardi, tu che mi racconti. Milano: Feltrinelli, 1997.