TÍTULO DO SIMPÓSIO:
COMUNICAÇÕES INDIVIDUAIS
Gisele Maria Nascimento Palmieri (doutora UFRJ)
Em A ciascuno il suo (1966), um dos gialli non gialli de autoria de Leonardo Sciascia, identificamos o personagem de Laurana como um representante do “povo vencido”- un popolo sempre vinto (SCIASCIA, 1988, p.116) - numa clara referência à teoria de Verga. O sentido verghiano de “povo vencido”, na adaptação sciasciana justifica a opção tardia de Laurana pelo silêncio, ao sentir-se vencido pela sua condição identitária, convencendo-se, após longa investigação solitária sobre os crimes praticados na trama, de que o melhor era silenciar. Assim, o personagem retorna à situação inicial da sicilitudine, praticando o hábito cultural do silêncio que recusara até então. O realismo crítico de Sciascia reelabora o pessimismo característico do verismo de Verga ao propor “o obscuro amor próprio” - uma condição identitária forjada por séculos de infâmia e opressão de um povo sempre vencido - como uma condenação existencial de todo siciliano. Afastando-se da tradição literária meridional de “letteratura da stato d’assedio”, expressão de Carlo Bo, utilizada em referência àquelas narrativas que atribuíam caráter consolatório a uma Sicília vitimizada pelas constantes explorações (MAURO, 1970, p.13) - Sciascia atualiza a visão de Verga sobre i vinti ao considerar a derrota do homem para além da questão social. Ao propor a temática do silêncio em vez daquela da pobreza e do progresso social, institui que, quando se silencia diante da injustiça, a derrota é moral.
PALAVRAS-CHAVE: Silêncio, Moral, Popolo Vinto, Giallo
REFERÊNCIAS:
MAURO, W. Sciascia. Firenze: La Nuova Italia, 1970.
SCIASCIA, L. A ciascuno il suo. Milano: Adelphi, 1988.