TÍTULO DO SIMPÓSIO:
Paisagens da Itália finissecular
PROPONENTES:
Eric Santiago (UFRJ) - ericsilvasantiago@gmail.com
Fabiano Dalla Bona (UFRJ) - fdbona@gmail.com
Julia Lobão (UFRJ) - julialobao@msn.com
RESUMO DA PROPOSTA:
Segundo Collot: “a paisagem não é um território real, é o território percebido pelo ponto de vista de um sujeito” (COLLOT, 1997, p. 193). Desde o final do século XV, em 1493, quando Jean Molinet utiliza-se pela primeira vez do termo paysage para referir-se à representação de um pays, isto é, uma região ou espaço contemplado, a associação do termo paisagem torna-se indissociável da ideia de representação pictural de espaços naturais. A confirmar isso, assevera Bona que: “o que percebemos é que, tanto em português, como em italiano e francês, a noção de paisagem surgiu associada ao desenvolvimento das artes pictóricas” (BONA, 2017, p. 57); tal associação faz com que sejam necessários quase três séculos de produção artística para que finalmente a noção paisagística encontre variações tonais. A partir da Segunda Revolução Industrial, os ideais estéticos e artísticos cambiam-se e alteram-se diante das ameaças de uma iminente modernização forçada pois, segundo Eco: “frente à opressão do mundo industrial, às metrópoles percorridas por multidões imensas e anônimas, à insurgência do movimento operário organizado, enquanto floresce uma forma de jornalismo que, publicando contos populares em capítulos, dá início àquela que chamamos hoje cultura de massa, o artista sente ameaçados os próprios ideais” (ECO, 2007, p. 350). Tal ameaça constitui uma mudança radical no olhar do artista da virada do século que passa não somente a retratar paisagens como representações de espaços naturais, mas também como aquilo a que Baudelaire chamaria de vida universal: “as paisagens da cidade grande, paisagens de pedra acariciadas pela bruma ou fustigadas pelos sopros do sol [...] as belas carruagens, os garbosos cavalos, a limpeza reluzente dos lacaios, a destreza dos criados, o andar das mulheres ondulosas, as belas crianças, felizes por viverem e estarem bem vestidas” (BAUDELAIRE, 2006 ,p. 858). A Paris baudelairiana apresenta-se como uma profusão de limpeza, organização e modernidade; no entanto, nem todas as representações modernas de paisagem simbolizarão a mesma virtuosidade. A respeito dessa noção de paisagem, vale acrescentar que, de acordo com Pimenta: “a ideia de paisagem relaciona-se diretamente com a era moderna. Quando o homem passa a se reconhecer como o centro da vida na terra, vê-se espacialmente circunscrito. Constrói-se como humanidade, inserindo-se na paisagem” (PIMENTA, 2016, p. 864). A autora ainda acrescenta que: “o espaço passa a ser elemento-chave e torna-se objeto de indagações. O homem reconhece-se contextualizado. Observa o mundo exterior no qual se insere” (PIMENTA, 2016, p. 864); o elemento antropomórfico torna-se, portanto, indispensável para as concepções paisagísticas correntes. No contexto de produção artística italiana, o Inno a Satana (1863) de Giosuè Carducci com seu trem a vapor monstruoso que rompe barreiras e despede- se violenta e portentosamente do obscurantismo medieval; a nostalgia e a indignação diante da destruição do potente império romano da fase de crônicas jornalísticas (1880-1889) de Gabriele D’Annunzio; a decadente e antiaustríaca cidade de Arrigo Boito em Senso (1883); a Nápoles sventrata de Il ventre di Napoli (1884) de Matilde Serao; a Catânia barroca de Federico De roberto em I Vicerè (1894); cidade futurista, fragmentada e vigilante de “Visione simultanee” (1911- 1912) de Umberto Boccioni; a ululante e dinâmica La passeggiata (1913) do então futurista Aldo Palazzeschi; da Sicília recém unificada ao Reino da Itália de I vecchi e i giovanni (1913) de Luigi Pirandello; as chaminés e indústrias de Mario Sironi, em sua pintura “Paesaggio urbano con ciminiere” (1920-23) evidenciam espaços da virada do século que muito se distanciam dos moldes canônicos de paisagem. Para Michel Jakob (2005), a equação que compreende um observador e um ambiente a ser observado resulta no produto da Paisagem Literária (Paisagem = Sujeito + Natureza). Segundo o autor, a Paisagem literária compreende um processo de mútua transformação entre espaço e sujeito. A esse respeito, Michel Collot (2013, p.17) acrescenta que: “De fato, a noção de paisagem envolve pelo menos três componentes, unidos numa relação complexa: um local, um olhar e uma imagem. As teorias da paisagem deram ênfase ora ao primeiro, ora ao último desses componentes, em detrimento do segundo”. Deste modo, este simpósio se propõe a acolher trabalhos que busquem discutir as mais diversas representações paisagísticas – clássicas ou modernas, naturais ou citadinas – nos âmbitos literários e picturais que componham o contexto italiano entre os séculos XIX e XX.
REFERÊNCIAS:
BAUDELAIRE, Charles. Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2006.
BONA, Fabiano. Paisagens de palavras na obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. Rio de Janeiro: Rio Books, 2017.
BOITO, Arrigo. Senso. Lecce: Manni, 2015.
CARDUCCI, Giosuè. Poesie di Giosué Carducci MDCCCL-MCM. Bologna: Zanichelli Editore, 1914.
COLLOT, Michel. Poética e filosofia da paisagem. Coordenação da trad.: Ida Alves. Rio de Janeiro: Editora Oficina Raquel, 2013.
D’ANNUNZIO, Gabriele. Scritti giornalistici 1882-1888. v. 1. (Org. Annamaria Andreoli). Milano: Mondadori, 1996.
D’ANNUNZIO, Gabriele. Scritti giornalistici 1889-1938. v. 2. (Org. Annamaria Andreoli). Milano: Mondadori, 1996.
DE ROBERTO, Federico. I Vicerè. Roma: Newton Compton, 2018.
ECO, Umberto. Storia della bruttezza. Roma: Bompiani, 2007.
JAKOB, Michael. Paesaggio e letteratura. Firenze: Leo S. Olshki, 2005. PALAZZESCHI, Aldo. Poesie. Milano: Mondadori, 1971.
PIMENTA, Margareth Afeche. Em busca do sentimento de paisagem. In: Cadernos Metropolitanos, São Paulo, v. 18, n. 37, set/dez 2016, p. 863-877. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2016-3712 Acesso
em 21 março de 2021.
PIRANDELLO, Luigi. I vecchi e i giovani. Milano: Feltrinelli, 2017. SERAO, Matilde. Il ventre di Napoli. Milano: Rizzoli, 2012.
PALAVRAS-CHAVE:
Paisagens Literárias; Espaços; Pintura; Modernidade; Cidade.