TÍTULO DO SIMPÓSIO:
O lugar da palavra: história, política, sociedade em tradução
PROPONENTES:
Aislan Camargo Maciera (USP) - aislan@usp.br
Aline Fogaça dos Santos Reis e Silva (UFRGS) - alinefogacareis@gmail.com
Gesualdo Maffia (ICIB) - gesualdo.maffia@gmail.com
RESUMO DA PROPOSTA:
O ato da escrita, bem como o processo tradutório fazem aflorar uma série de fatores que não se restringem ao “valor intrínseco” da obra literária - como foi observado por André Lefevere -, mas que se relacionam a toda uma rede na qual eles estão inseridos. Questões políticas, históricas, militância e momentos de maior ou diferente engajamento são aspectos centrais na tradução e nas diferentes leituras do texto na cultura que o acolhe: motivados, por um lado, pelo intuito de perpetuar o já mencionado valor inerente à obra; por outro, pela conjuntura. Exemplo disso é o fato de que, recentemente, conflitos identitários, de resistência e de autoafirmação, alimentados por movimentos sociais de grande força e visibilidade, como o Black lives matter, entre outros, têm influenciado também as políticas editoriais em relação às escolhas de quem traduzir e por que traduzi-lo. Na medida em que o momento atual assiste a um recrudescimento de posturas discriminatórias e preconceituosas - racismo, machismo, xenofobia, homofobia e capacitismo - incitadas e fomentadas por regimes e discursos extremistas, ultra- conservadores e autoritários, faz-se necessário que a palavra ocupe o seu lugar em todas as suas formas e potencialidades. A tradução, enquanto “a forma mais reconhecível de reescritura e a potencialmente mais influente por sua capacidade de projetar a imagem de um autor e/ou de uma (série de) obra(s) em outra cultura, elevando o autor e/ou as obras para além dos limites de sua cultura de origem” (LEFEVERE, 2007, p. 24), torna-se um caminho para a conjugação de culturas - com base nos conceitos de planetarity e plurivocality de Gayatri Spivak. Assim como não é possível dissociar a obra literária do contexto que a produz, também não é possível desconsiderar os contextos nos quais se inserem as traduções, ou seja, a sua chegada a um outro sistema literário (CÂNDIDO, 2006). Pretende-se, portanto, discutir qual é o papel da literatura - ficcional, memorialística, testemunhal -, enquanto constituinte do próprio processo histórico, e como as relações culturais, sociais, políticas e históricas influenciam as traduções - tanto da Itália em direção ao Brasil, quanto do Brasil em direção à Itália - e a recepção da obra literária nos diferentes ambientes culturais que a acolhem.
REFERÊNCIAS:
CÂNDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
D’HULST, Lieven. Comparative Literature versus Translation Studies: Close Encounters of the Third Kind? European Review, Cambridge, v.15, n.1, p. 95-104, jan. 2007.
LEFEVERE, André. Tradução, reescrita e manipulação da fama literária. Tradução de Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007. (Coleção Signum)
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Death of a discipline. New York: Columbia University Press, 2003.
PALAVRAS-CHAVE:
Tradução; literatura engajada; políticas editoriais.