Propostas aceitas - XX Congresso ABPI (novembro 2023)

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

GÊNEROS E FORMAS DA CONTAMINAÇÃO LITERÁRIA: HIBRIDAÇÕES NA LITERATURA ITALIANA

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

A edição ilustrada de Francesca da Rimini de Gabriele d'Annunzio: hibridações

Fabiano Dalla Bona (UFRJ)

No patrimônio literário ocidental existem duas versões de Francesca da Rimini. A primeira delas é a de Dante Alighieri na Divina Comédia, no qual somente o poeta conseguiu conjugar, de maneira sublime e misteriosa, pecado e beleza, amor e morte, paixão, pena e piedade amorosa. Uma “velha” Francesca. Há, porém, uma “nova” Francesca, filha da sensibilidade e das pulsões romântico-patrióticas que desencadearam a coragem e a força para tratar de temas que, até o Ancien Regime, eram considerados como tabu. Por cinco séculos a “velha” Francesca foi uma penitente sofredora que, junto com o amante Paolo, vagava sem esperança entre as chamas e a tormenta implacável do mundo ultraterreno. Uma Francesca “feia”, marcada pela culpa inexorável do suposto adultério. Mas no final do século XVIII torna-se um protótipo de beleza assim que é transportada para fora da Divina Comédia. Muito amada, torna-se sucesso nas versões de Silvio Pellico, Leigh Hunt, Paul Johann Ludwig von Heyse, George Henry Boker e Gabriele D’Annunzio como alguns exemplos na literatura, e de Jean-August Dominique Ingres, Ary Scheffer e William Blake nas artes visuais, além de Tchaikovsky, Riccardo Zandonai e Rachmaninoff (1873-1943) na música. A “nova” Francesca é bela, virtuosa e corajosa, e torna-se facilmente a heroína e a musa para os tantos patriotas empenhados em lutar pela independência e pela liberdade. E não apenas na Itália. A velha e a nova Francesca viajaram e ainda viajam pelo mundo, com vidas e percursos absolutamente distintos e paralelos. Por vezes se encontraram, e se encontram, mesclaram-se, contaminaram-se e sofreram hibridações sem jamais se confundirem. Duas “Francescas” que têm a mesma inspiração, mas que são diferentes nas motivações e nas significações. Dos mitos mais longevos da cultura ocidental protagonizou obras em variadas expressões e em muitas línguas que no imaginário coletivo, transformaram a pecadora adúltera em heroína até fazer dela o símbolo da fidelidade eterna ao primeiro amor e à paixão que tudo vence. Dois são os objetivos dessa comunicação: traçar um breve perfil desse topos e analisar a relação híbrida entre literatura e artes visuais na sua edição de luxo de Gabriele D’Annunzio, publicada em 1902 e ilustrada por Adolfo De Carolis.

PALAVRAS-CHAVE: Francesca da Rimini; Gabriele d'Annunzio; literatura; artes visuais.

REFERÊNCIAS:

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D’ANNUNZIO, Gabriele. Francesca da Rimini. Milano: Fratelli Treves Editori, 1902.

FONDO ADOLFO DE CAROLIS. Projeto Partage Plus – Il Liberty in Italia. Disponível em: http://liberty.beniculturali.it/index.php?it/1/home. Acesso em: 20 jul. 2019.

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