TÍTULO DO SIMPÓSIO:
GÊNEROS E FORMAS DA CONTAMINAÇÃO LITERÁRIA: HIBRIDAÇÕES NA LITERATURA ITALIANA
Carolina de Castro Wanderley (UFRJ)
A ideia do rebaixamento estilístico do texto permeia majoritariamente os estudos literários acerca da paródia. Considera-se que se parte de texto parodiado originário prestigiado, sério e canônico, para uma obra derivada paródica, normalmente um texto cômico, num aparente decréscimo de qualidade ou numa aparente hibridação negativa. Como se sempre a paródia fosse uma versão enxovalhada da obra originária. Contudo, em PASERO (2015), tem-se que os textos parodísticos são formas contaminadas, sem dúvidas, mas que estabelecem uma operação proeminentemente crítica em relação aos textos originários. Lançam mão de práticas manipulativas de várias naturezas, de forma a manifestar a contaminação literária e uma prática dialógica aos moldes bakhtinianos. Vetores sociais, políticos, ideológicos e estéticos são questionados da obra parodiada e resultam não num palimpsesto, mas sim num diálogo simultâneo intertextos rico e construtivo. Nestes moldes, a paródia não representaria mais a versão grotesca do texto originário, mas seu questionamento híbrido construtivo. Pretende-se, segundo a presente proposta, realizar uma comunicação que analise sob o enfoque da paródia como derivação crítica estabelecido por PASERO (2015), a obra cinematográfica Qui rido io, filme de 2021 de Mario Martone. O filme narra a história de Eduardo Scarpetta, comediante e ator napolitano, e em especial seus problemas legais com o poeta e dramaturgo Gabriele D’Annunzio. Scarpetta, na obra cênica Il figlio di Iorio estabelece uma paródia da peça teatral La figlia di Iorio, de D’Annunzio, motivo de grande mal estar e comoção pública na Itália da Belle Époque e, o que é mais relevante, causa de um processo judicial de grande repercussão pública na ocasião. O longa-metragem mencionado será investigado enquanto retrato dos conflitos sociais e ideológicos que ensejam o diálogo intertexto da paródia Il figlio di Iorio, observando-se os fatores de contaminação literária. Lança-se mão, além da referência teórica mencionada, das leituras de BAKHTIN (2010) e HUTCHEON (1991).
PALAVRAS-CHAVE: Paródia; dialogismo; Qui rido io.
REFERÊNCIAS:
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovith. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento: o contexto de François Rabelais. Trad. Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 2010.
HUTCHEON, Linda. Poe?tica do po?s-modernismo: histo?ria, teoria e ficc?a?o. Traduc?a?o de Ricardo Cruz. Rio de Janeiro: Imago, 1991.
PASERO, Nicolò. Metafora e parodia come fenomeni di contaminazione letteraria. Moderna: semestrale di teoria e critica della letteratura. v. 17, nº 1, 2015. p. 79-84.