TÍTULO DO SIMPÓSIO:
GÊNEROS E FORMAS DA CONTAMINAÇÃO LITERÁRIA: HIBRIDAÇÕES NA LITERATURA ITALIANA
Eric Santiago (UFRJ)
A passagem do século XIX para o XX na Europa foi permeada por diversos acontecimentos de grande impacto sociocultural, como por exemplo, os mais diversos tipos de guerras, unificações e independências. Neste caldeirão acaba por efervescer um tipo particular de escrita: o manifesto. Esta forma, que aparenta uma melhor adequação a temas políticos – vide a publicação do Manifesto Comunista em 1848 –, logo é cooptada pelo meio artístico, principalmente as vanguardas, que a utiliza de forma tão extensiva que chega a “constituir uma verdadeira cultura de manifestos” (BARROSO, 2007, p.9). Seja o Manifesto futurista, o raionista, o suprematista ou o dadaísta – para citar alguns –, todos parecem ser perpassados pela vontade de “exprimir de maneira convincente e persuasiva uma verdade que sustente uma determinada visão artística” (BARROSO, 2007, p.9). Entretanto, apesar do ensejo comum, o manifesto parece ter sido uma estilo-forma particularmente amado pelos futuristas italianos, e é neste meio que surge a figura de Aldo Palazzeschi e o seu Il Controdolore. Porém, o manifesto de Palazzeschi possui características que o deslocam e o aproximam dos ideais e da estética do movimento futurista, um texto que pertence sem pertencer, que está não estando. Desta forma, a seguinte apresentação visa discorrer sobre tais características, focando-se principalmente nos pontos dissonantes do manifesto palazzeschiano colocando-o em confronto com manifestos de outros autores futuristas, como Carrà, Russolo e até o próprio Marinetti. Pretendo ainda demonstrar de que maneiras Palazzeschi se vale de algumas das artimanhas do cômico (Gigliucci, 2021) e, mais especificamente, do olhar cômico (Pereira, 2017; Berger, 2017) para construir um texto que possui todas as características de um manifesto e, ao mesmo tempo, bem poucas.
PALAVRAS-CHAVE: Aldo Palazzeschi; Manifesto; Il Controdolore; Cômico.
REFERÊNCIAS:
BERGER. Peter L. O riso redentor: a dimensão cômica da experiência humana. Tradução de Noéli Correia de Melo Sobrinho. Petrópolis: Vozes, 2017.
GIGLIUCCI, Roberto. Idee sul comico. Roma: tab edizioni, 2021.
MARINETTI, Filippo et al. Manifesti del futurismo. Milano: plillole BUR, 2013.
PEREIRA, Ricardo Araújo. A doença, o sofrimento e a morte entram num bar. Uma espécie de manual de escrita humorística. Rio de Janeiro: Tinta-da-china Brasil, 2017.