Propostas aceitas - XX Congresso ABPI (novembro 2023)

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

TRADUÇÃO CRIATIVA

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Tradução libertina

Nayana Montechiari (UFRJ)

Sobre o poema de Emilio Villa “Carta para Ruggero Jacobi”, em Ouolof - Poemas mudados para o português, Herberto Helder (1997, p. 77-78, grifo do autor) revela que sua intenção era apresentar o poema como se o tivesse traduzido, ou ainda, “mudado para o português” deixando-se atravessar pelo poeta e sua “fortíssima gramática poética portuguesa”. Emilio Villa escreveu em um português inventado, poético e, assim, o poema foi publicado sem modificações como que “traduzido” por Helder. Tradutor da Odisseia e do Antigo Testamento, o poeta Emilio Villa escreveu em diversas línguas, entre elas um idioma que chamava de “brasileiro" – um português próprio. O poema analisado foi publicado duas vezes por Herberto Helder, a primeira “por inocência”, em 1964, e a segunda “por libertinagem”, em 1997. Segundo Octavio Paz (2009, p. 13, 15), nenhum texto poderia ser considerado original, pois “a própria linguagem em sua essência já é uma tradução: primeiro, do mundo não-verbal e, depois, porque cada signo e cada frase é a tradução de outro signo e de outra frase.” A tradução, considerada como ato libertino por Helder, transborda, não se atém ao ato de transferência de uma língua à outra, mas ao ato de transmitir a passagem de tempo para o tradutor: o tempo entre as suas percepções e leituras - a tradução para o seu idioleto. Transborda o ato em si, propondo “um ato extremo” – manter o poema ‘traduzido’ à força da poética de Emilio Villa.

PALAVRAS-CHAVE: Tradução; Emilio Villa; poesia.

REFERÊNCIAS:

HELDER, Herberto. Ouolof. Lisboa: Assírio & Alvim, 1997. p. 77-78

PAZ, Octavio. Tradução: literatura e literalidade. Tradução de Doralice Alves de Queiroz. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2009.