Propostas aceitas - XX Congresso ABPI (novembro 2023)

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

TRADUÇÃO CRIATIVA

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Por que retraduzir? Petrarca no Brasil

Lucia Wataghin (USP)

Recentemente, na área de estudos de tradução têm-se verificado um aumento de interesse pelo tema das retraduções, no sentido de novas traduções de um texto-fonte. Por que, quanto, quando, com que frequência, como, quem retraduz obras que já contam com traduções presentes em bibliotecas ou até ainda em comércio em livrarias? Quais são os efeitos da presença das obras retraduzidas, no mercado das letras, ou nas relações entre o que chamamos de sistema da literatura traduzida (Even-Zohar) e o polissistema? Em que relação as retraduções se colocam entre si e com o texto-fonte? O que podemos deduzir, a partir da quantidade de obras retraduzidas e do prestígio e do alcance de suas editoras, sobre as relações, assimétricas, entre as diferentes literaturas? No Brasil, obras como a Divina Comédia, o Decameron, o Príncipe são constantemente e maciçamente traduzidas e retraduzidas, enquanto outras, de status e fama comparável, na república das letras, nunca foram traduzidas e, muito menos, retraduzidas. Nesse sentido, é emblemático o caso do Cancioneiro de Petrarca, fundador de uma tradição que alimenta também a poesia brasileira, mas que só teve duas traduções parciais (em 1843 e em 1945) e só começa a ser traduzido e/ou retraduzido no Brasil a partir dos anos 2000. A onda de retraduções começa com a primorosa tradução de José Clemente Pozenato (2014) e duas traduções parciais (2013 e 2023), limitadas aos sonetos. As traduções de Petrarca no Brasil formam um conjunto que podemos chamar de “família” (Skibinska, 2007) de textos que existem ao mesmo tempo num emaranhado de conexões, leituras sintônicas ou conflitantes, percursos diferentes e desvios. Na leitura desse quadro, percursos e interconexões, será importante a observação dos paratextos, que iluminam o fluxo das retraduções, as razões, os escopos, as identidades de editoras e tradutores.

PALAVRAS-CHAVE: traduções; retraduções; Petrarca.

REFERÊNCIAS:

Berman, A. A tradução e a letra. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007.

Britto, P.H. A tradução literária. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012

Faleiros, Álvaro e Thiago Mattos. “A noção de retradução nos estudos de tradução: um percurso teórico”, in Revista Letras Raras, vol. 3, n. 2, 2014.

Faleiros, Álvaro e Thiago Mattos. A retradução de poetas franceses no Brasil: de Lamartine a Prevert. São Paulo: Rafael Copetti Ed., 2017

Skibinska, Elzbieta. “La retraduction, manifestation de la subjetivité du traducteur”. In Doletiana: Revista de traducciò, literatura i arts, I. Barcelona, 2007, pp. 1-10.  

Lefevere, A. Tradução, reescrita e manipulação literária. Tradução de Claudia Matos Seligmann. Bauru: Edusc, 2007.

Gentzler, Edwin. Translation and Rewriting in the Age of Post-Translation Studies, London & New York: Routledge, 2017.

Venuti, Lawrence. A invisibilidade do tradutor. Tradução de Carolina Alfaro. Rio de Janeiro: Palavra – Departamento de Letras da PUC- Rio, n.3, 1995.