Propostas aceitas - XX Congresso ABPI (novembro 2023)

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

(TRANS)FORMAÇÃO DOCENTE E A EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA EM LÍNGUA ITALIANA: CAMINHOS POSSÍVEIS

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Da representação à "realidade" no ensino-aprendizagem do italiano L2: o role play como instrumento plurifuncional

Sulamita Maria Mattos da Costa (USP)

Em um passado não muito distante, o ensino de segundas línguas (L2) era sinônimo de explicação de normas gramaticais, descrição de estruturas, repetição de frases isoladas, muitas vezes sem significado, memorização de listas intermináveis de vocabulário e de regras. Nesse contexto, não havia espaço para a experiência do aprendiz, para sua visão da(s) língua(s) e do mundo, e para as transformações que o contato com uma nova língua inevitavelmente produz. Além disso, a língua ensinada durante as aulas era muito distante daquela utilizada em contextos reais. A partir das reflexões sobre competência comunicativa, entendida como capacidade de interagir de forma socialmente adequada (HYMES, 1972), começa a se abrir um espaço para novas maneiras de entender e ensinar-aprender línguas. Nesse contexto, “exercícios” e repetições são insuficientes: é preciso que as aulas tenham uma relação com a realidade, estimulem reflexões sobre a(s) língua(s) e as diferentes situações em que a utilizamos e propiciem ao aprendiz o desenvolvimento de uma postura crítica e autônoma, que leve em conta as diferenças entre culturas e seja um verdadeiro instrumento de comunicação. O role play foi uma das estratégias utilizadas no ensino e na avaliação de L2 com o objetivo de estimular a interação e de criar situações realísticas. De fato, se entendermos que “uma simulação pode se tornar uma situação totalmente real para os participantes” [“a simulation can become a totally real situation for participants”] (CROOKALL et al., 1987, p. 153), podemos considerar que, longe de ser apenas uma “simulação” artificial e destacada da realidade como alguns acreditam (GOLATO, 2003), esse instrumento pode ser uma ferramenta multifuncional, capaz de trazer para o ambiente do ensino e da aprendizagem de línguas a competência comunicativa, a competência pragmática, a autonomia no uso da língua, a criatividade e a reflexão sobre o que fazemos quando falamos. Partindo dessas considerações, o objetivo deste trabalho é apresentar os resultados de experiências realizadas com aprendizes de italiano no Brasil, aos quais foram propostos role plays com características definidas no contexto das aulas, que visavam a estimular a reflexão sobre a língua em uso e suas implicações. Ao final da atividade, foi distribuído aos aprendizes um questionário com uma entrevista retrospectiva. Na primeira parte, as perguntas solicitavam uma avaliação global da experiência feita; na segunda, foi pedido que os aprendizes julgassem em que medida o role play pode trazer a realidade para a sala de aula, refletindo, por um lado, sobre o uso da língua e o grau de naturalidade e, por outro, sobre as reflexões interculturais estimuladas pela atividade.

PALAVRAS-CHAVE: Role Play; Simulação; Ensino de italiano; Aprendizes brasileiros.

REFERÊNCIAS:

CROOKALL, D.; OXFORD, R. L.; SAUNDERS, D. Towards a reconceptualization of simulation: From representation to reality. Simulation/Games for Learning, v.17, p. 147-171, 1987.

GOLATO, A. Studying Compliment Responses: A Comparison of DCTs and Recordings of Naturally Occurring Talk. Applied Linguistics, v. 24, n. 1, p. 90–121, 2003.

HYMES, D. On Communicative Competence. In J. Pride, & J. Holmes (Orgs.); Sociolinguistics. p. 269-285, 1972. Harmondsworth: Penguin Books.