TÍTULO DO SIMPÓSIO:
LÍNGUA, IDENTIDADE E MEMÓRIA: "ITALIANIDADE(S)" NO BRASIL ENTRE CONTATOS, CONFLITOS E TRANSFORMAÇÕES
Rafael Cesar Scabin (USP)
O chamado dialeto ítalo-paulistano, presumida variedade linguística de contato que teria surgido no contexto da migração italiana em São Paulo durante as primeiras décadas do século XX, é mencionado com frequência por estudiosos e escritores. Desse dialeto, contudo, não temos praticamente nenhum registro documental consistente. Um reduzido número de estudos ou apontamentos são utilizados como base para justificar a existência do dialeto ítalo-paulistano. São eles: 1) um artigo de Ivan Silva, intitulado O linguajar Paulistano, publicado em 1941 na revista Planalto (SILVA, 1941a; 1941b); 2) dois pequenos textos de Giulio Davide Leoni a respeito das influências do português nos dialetos italianos em São Paulo (LEONI, 1959; 1963) e 3) um artigo de Francisco da Silveira Bueno intitulado Influências italianas no português do Brasil, publicado em 1964 no periódico Orbis: Bulletin international de Documentation linguistique (BUENO, 1964). Nossa comunicação realiza um balanço crítico desse conjunto de estudos e apontamentos, identificando a definição de dialeto que cada autor utiliza e como eles interpretam o contexto linguístico paulistano, especialmente da população de origem italiana. No mesmo sentido, avaliamos como esses estudos abordam o problema da coleta de dados e como seu procedimento está relacionado a uma pluralidade de sentidos do termo dialeto e a uma delimitação imprecisa do objeto. Nosso objetivo principal é identificar as premissas e fundamentos desses estudos e relacioná-los com o contexto teórico dos estudos dialetais no Brasil, sobretudo a partir de O dialecto caipira de Amadeu Amaral (1920), e com a consolidação da classificação de dialeto ítalo-paulistano para se referir a representações literárias da linguagem dos ítalo-paulistanos em textos cômicos como os de Juó Bananére ou nas crônicas de Alcântara Machado.
PALAVRAS-CHAVE: Dialeto ítalo-paulistano; Migração italiana; Dialetologia.
REFERÊNCIAS:
AMARAL, Amadeu. O dialecto caipira. São Paulo: Casa Editora “O Livro”, 1920.
BUENO, Francisco da Silveira. “Influências italianas no português do Brasil.” Orbis: Bulletin International de Documentation linguistique, Tomo XIII, n 1, 1964, p. 240-252.
LEONI, Giulio Davide. “Divagazioni idiomatiche italo-portoghese”. Anuário da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, n 16, 1959, p. 111-117.
______. “Appunti per uno studio delle influenze del portoghese sui dialetti italiani a São Paulo del Brasile”. Orbis: Bulletin International de Documentation linguistique, tomo XII, 1963, p. 212-220.
SILVA, Ivan. “O linguajar paulistano (parte I)”. Planalto: quinzenário de cultura, São Paulo, n. 4, 1 jul. 1941a, p. 4, 20.
______. “O linguajar paulistano (parte II)”. Planalto: quinzenário de cultura, São Paulo, n. 6, 1 de ago. 1941b, p. 16.
______. “O linguajar paulistano: Dissertação de acréscimo”. Planalto: quinzenário de cultura, São Paulo, n. 18, 1 fev. 1942, p. 9-10.