TÍTULO DO SIMPÓSIO:
LÍNGUA, IDENTIDADE E MEMÓRIA: "ITALIANIDADE(S)" NO BRASIL ENTRE CONTATOS, CONFLITOS E TRANSFORMAÇÕES
Regina Célia da Silva (UNICAMP)
A grande onda migratória de europeus entre as duas últimas décadas do século XIX e as primeiras do século XX se insere no âmbito do projeto de branqueamento da sociedade brasileira que norteou uma política de Estado da recém proclamada república. O objetivo desta comunicação é discutir elementos presentes em certas representações artísticas desse período e em outras mais recentes que alimentam um paradoxo que atravessa o imaginário social brasileiro: de um lado, a chegada dos italianos teria a finalidade de “redimir” e “melhorar” a raça brasileira; de outro, ela estaria intrinsecamente relacionada à gênese dos principais movimentos de resistência, como as primeiras greves e às primeiras organizações sindicais. Em ambas interpretações da “italianidade”, percebe-se, de um lado, um substrato que constitui um dos fundamentos do projeto da extrema direita brasileira; por outro, nota-se o apagamento da história dos movimentos de resistência de quilombolas e povos originários, contemporâneos e mesmo anteriores às organizações sindicais dos anos 20 do século passado. A diáspora italiana produziu um rimosso, uma ferida: a expulsão da própria terra pela fome e pela miséria e a impossibilidade de retorno teriam produzido inicialmente um silêncio a respeito do tema. Diante da ascensão da onda fascista na última década é oportuno refletir sobre a contribuição que professores de língua, cujo papel é essencial para a apresentação e representação dessa história a partir de recortes de materiais didáticos, imagens e de abordagens que transmitem em suas escolhas. Paralelamente, seria importante perguntar-se 1) em que medida além de não-racistas, poderíamos também adotar uma posição anti-racista em nossas práticas e abordagens? 2) em que medida o apagamento efetivado por muitos descendentes de italianos e a própria reescritura da história familiar que reivindica uma branquitude e uma superioridade moral, racial e étnica constituem o principal vetor do neofascismo brasileiro?
PALAVRAS-CHAVE: Italianidade; apagamento; memória; neofascismo.
REFERÊNCIAS:
BAO, c. e. A invenção da italianidade no Brasil - contribuição para um olhar descontínuo. XXVIII Simpósio Nacional de HIstória (Lugares dos historiadores:e velhos e novos desafios) Florianópolis, 2015
SANTOS, c. j. Nem tudo era italiano - São Paulo e pobreza. São Paulo: Annablume, 1998.
ZANIN, M. C. Italianidade no Brasil meridional. Campo Grande: Ed. UFSM, 2006.
CONSTANTINO, n. s. Viajantes italianos imigração e italianidade no Brasil. Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, v. 38, supl., p. S312-S325, nov. 2012
TRUZZI, O. M. S.. Italianidade no interior paulista. Ed. Unesp, 2016.
CARNIERI, C. A.. A italianidade em movimento: travessias e olhares. Tese mestrado, UFPR, 2013.
Linha do tempo - Museu do Futebol Movimento Negro https://museudofutebol.org.br/linha-do-tempo/ acesso 17.06.23