Lendo Kucinski e Valenti: literatura e justiça de transição entre Brasil e Itália
Leonardo Rossi Bianconi
PPGLIT - UFSC
Neste minicurso, propomos uma reflexão sobre as relações entre literatura e justiça de transição a partir das obras Rosso nella notte bianca, do autor italiano Stefano Valenti, e K. – Relato de uma busca, do brasileiro Bernardo Kucinski. Nosso objetivo é examinar como a literatura pode ampliar a sensibilidade humana diante das violências cometidas por regimes autoritários e seus efeitos duradouros nas vítimas e na sociedade.
As narrativas de Valenti e Kucinski permitem uma aproximação entre os contextos histórico-políticos da Itália e do Brasil, sobretudo ao abordarem as marcas deixadas pela repressão de Estado, o apagamento das vítimas e os silêncios que persistem após o fim formal dos conflitos.
Por meio das estratégias dos chamados "novos realismos", essas obras desorganizam linearidades temporais e espaciais, questionando fronteiras entre vida privada e história oficial, entre o desaparecimento e o luto, entre a ficção e o testemunho.
O minicurso buscará, assim, explorar os modos como a literatura participa dos debates sobre o que chamamos de período transicional — a passagem da ditadura ou da guerra civil para outras formas de organização social —, e de que maneira ela tensiona os discursos reconciliatórios e institucionais.
Inspirados pelo conceito de "viver de segunda mão", formulado por George Steiner, refletiremos ainda sobre o papel da crítica literária como forma de testemunho indireto e como experiência sensível, capaz de transformar a literatura em espaço de elaboração e de escuta diante das memórias traumáticas e das experiências que escapam aos registros oficiais.
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Oficina de tradução de italiano medieval
Adriana Tulio Baggio
Entre os séculos XIII e XIV, a língua vernácula falada nas diversas regiões da península itálica passou a ser adotada também para a escrita de obras literárias e eruditas, diminuindo a primazia que antes era do latim. Nesse contexto surgiram as obras dos "fundadores" da literatura em língua italiana, como Dante Alighieri, Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio e seus seguidores. A tradução de textos dessa época nos dias de hoje, e para a língua portuguesa, apresenta alguns desafios. O primeiro são as diferenças entre as variantes do vernáculo medieval e o italiano padrão contemporâneo, tanto em termos de léxico quanto de ortografia; o segundo tem a ver com as estruturas ainda inspiradas no latim, e que por vezes exigem da pessoa tradutora uma verdadeira "autópsia" na frase para identificação das funções sintáticas; o terceiro são as alterações nos usos das palavras, que conferem nuances de sentido nem sempre fáceis de reproduzir na língua contemporânea. Considerando esse cenário, a proposta desta oficina é apresentar excertos de um texto em italiano medieval, observar a partir dele os três aspectos mencionados antes, e exercitar a tradução desse excerto. No exercício de tradução, conversaremos também sobre estratégias de estranhamento ou domesticação do texto para o leitor. Como fonte para as discussões e exercícios, utilizarmos trechos das biografias de mulheres presentes no "Delle donne famose", a tradução de Donato Albanzani (séc. XIV) para o "De mulieribus claris" de Giovanni Boccaccio. Trabalharemos com uma edição do século XIX dessa tradução, que foi preparada no contexto da atitude purista diante da "questão da língua" e que, portanto, preocupou-se com a manutenção do estilo "trecentista" do vernáculo.
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Canzoni italiane e Intelligenza Artificiale: una partnership importante per l'italianistica in Brasile
Vanessa Christina Araujo
UEL
La crescente integrazione dell'intelligenza artificiale (IA) nella nostra quotidianità suscita domande pertinenti nel contesto educativo, in particolare per gli insegnanti di lingue straniere (Spinelli, 2020). Lungi dal rappresentare una minaccia per la professione, l'IA si configura come uno strumento utile per l'innovazione pedagogica (Ferrara, 2019). Questo minicorso, strutturato in due incontri, propone una riflessione approfondita sull'impatto dell'IA nella didattica dellitalianistica in Brasile, con un focus sulla potente sinergia tra le canzoni italiane e gli strumenti di IA come vettori di progresso per l'insegnamento.
Il minicorso prevede incontri con attività pratiche con l'IA e discussioni di gruppo, con l'obiettivo di creare uno spazio per l'apprendimento e lo scambio di esperienze, contribuendo alla formazione continua di insegnanti capaci di affrontare le sfide e cogliere le opportunità dell'italianistica nel XXI secolo.
Nel primo incontro, verrà promossa un'analisi critica delle inquietudini emergenti sull'IA e del suo impatto sulla prassi pedagogica in piena era digitale (Colombo, 2018). Si discuterà sui possibili contributi dell'IA nell'insegnamento dell'italiano come lingua straniera (ILS), esplorando il suo potenziale per ottimizzare la personalizzazione dell'apprendimento (Della Monica; Trentin, 2017) e la gestione delle risorse didattiche.
Il secondo incontro esplorerà il potenziale dell'IA nella creazione di materiali didattici multimediali interattivi incentrati sul ricco universo delle canzoni italiane. Si indagherà come gli strumenti di IA possano aiutare nell'analisi linguistica e culturale dei testi musicali (Agostinho, 2018), nella creazione di attività ludiche e coinvolgenti e nell'agevolazione dell'acquisizione di vocaboli ed espressioni idiomatiche (Scarano, 2008). Attraverso l'integrazione della musica italiana e dell'IA, questo minicorso si propone di presentare strategie concrete per arricchire il processo di insegnamento e apprendimento della lingua e della cultura italiana, dimostrando il ruolo complementare e rafforzativo della tecnologia nel futuro dell'italianistica in Brasile.
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Alianças Antirracistas no Ensino de Italiano: pensando branquitude e educação linguística
Alessandra H. B. Fukumoto
Doutoranda UFMG
O minicurso é voltado a docentes de italiano (formação inicial e continuada) que tenham interesse em compreender as relações entre branquitude, italianidade e as alianças na tentativa de propor uma educação linguística antirracista. Para tanto, veremos alguns conceitos-chave da branquitude (tanto no contexto brasileiro, quanto no italiano), como ela se estrutura, como podemos nos localizar nas discussões raciais e, especialmente, qual a importância de pensarmos uma educação linguística que a leve em conta. A discussão faz parte de uma pesquisa de doutorado em Linguística Aplicada concluída no primeiro semestre de 2025, e se ancora na proposta de Moita Lopes (2006) por uma Linguística Aplicada Indisciplinar, na qual ele chama a atenção para a impossibilidade de se falar de linguagem e vida social sem conhecermos outras áreas que nos ajudam a compreender nossa sociedade. Dessa forma, essa proposta parte da Perspectiva Decolonial e é embasada pelos Estudos Raciais e de Branquitude. Para propor uma educação linguística que busque a formação de cidadãos participativos e críticos, precisamos nos perguntar quem é considerado cidadão de direitos. A Perspectiva Decolonial, por sua vez, ao apontar a centralidade da raça na nossa formação social e nos provocar a identificar e romper com as colonialidades que nos constituem, nos ajuda a perceber com quais silenciamentos e apagamentos estamos colaborando e como podemos nos posicionar de outras formas. A partir Moreira (2024) e Vaz (2024), compreendo que não vivenciaremos um regime democrático pleno enquanto houver desigualdade racial, pois ela impede o que Moreira chama de "solidariedade cívica", isto é, pessoas engajadas em criar relações igualitárias e em um reconhecimento mútuo de que somos iguais. O minicurso é um convite a nos pensarmos como docentes de italiano para brasileiros em aliança às lutas antirracistas.
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Escritoras venezianas no período da Contrarreforma: Fonte, Marinelli, Tarabotti e Copia Sullam
Valentina Cantori
USP
Se por um lado a Contrarreforma marcou um período de profunda repressão e censura, sobretudo em relação às mulheres e àqueles homens que colocavam em discussão o poder eclesiástico, por outro registrou uma atividade literária (como também filosófica e científica) particularmente vibrante. O objetivo deste minicurso é apresentar a obra de quatro autoras desse período, todas de origem veneziana: Moderata Fonte (1555-1592), Lucrezia Marinelli (1571-1653), Arcangela Tarabotti (1604-1652) e Sara Copia Sullam (c.1592-1641). Pensando tanto no contexto sócio-cultural moldado pela Contrarreforma quanto na efervescência do ambiente literário veneziano, leremos e comentaremos uma seleção de textos que, além de testemunhos históricos, se revelam obras de grande valor literário, tratando-se de escritos que essas autoras compuseram em parte por iniciativa própria, mas sobretudo em resposta a atitudes violentas contra as mulheres e textos acusatórios, escolhendo a palavra como instrumento de afirmação e defesa.
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O percurso evolutivo do narcisismo literário de Italo Svevo em diálogo com a psicanálise
Maria Cecilia Casini
USP
A partir do texto "O percurso evolutivo do narcisismo literário em Uma vida, A consciência de Zeno e capítulos esparsos, de Ítalo Svevo", que serviu de inspiração para este minicurso, propõe-se uma abordagem interdisciplinar que articula a obra de Svevo com os aportes da psicanálise, conforme delineado por Borges (2013). O minicurso será desenvolvido em dois encontros e tem como objetivo apresentar o percurso da crítica e da pesquisa literária brasileira sobre a produção de Ítalo Svevo, considerado um dos principais autores italianos no limiar entre os séculos XIX e XX, com ênfase em seu diálogo com a psicanálise. Com base no mapeamento de artigos científicos publicados em diferentes contextos acadêmicos, esta proposta visa oferecer um panorama abrangente dos estudos svevianos no Brasil, contemplando desde as primeiras abordagens críticas até as produções mais recentes. Dessa forma, o minicurso busca contribuir para a compreensão da recepção crítica da obra de Svevo nacionalmente, bem como para a ampliação horizontal de leitura sob a ótica psicanalítica.
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A presença de Dante em Pasolini: tradução e comentário de La Divina Mimesis
Guilherme Augusto de Assis Rodrigues
USP
A obra do autor Pier Paolo Pasolini, morto há 50 anos, vem ganhando leituras críticas com o passar dos anos. Conhecido no Brasil sobretudo pela sua obra cinematográfica, a obra escrita do autor ainda não foi traduzida por completo em língua portuguesa. É o caso do último texto aprovado pelo seu autor em vida, La Divina Mimesis. Nesta obra, Pasolini entra em diálogo intertextual com a Commedia de Dante, projetando a reescrita da obra dantesca. O projeto remonta aos anos 1950, mas só é finalmente publicado em 1975, pouco antes do assassinato de seu autor. A presença de Dante é uma constante na obra de Pasolini, mas é em La Divina Mimesis que esta aparece em toda a sua extensão. Partindo dos estudos do filólogo italiano Gianfranco Contini sobre a escrita de Dante e de Petrarca, Pasolini desenvolve a ideia de "mímesis" como moto de sua escrita contemporânea. A fabulação pasoliniana o faz descer ao inferno acompanhado nada menos do que de si mesmo. Na versão pasoliniana, é o Pasolini "poeta cívico" da década de 1950 que guia o Pasolini poeta maduro e já um tanto desiludido das décadas de 1960-1970. Como em Dante, Pasolini encontra no inferno os seus contemporâneos, figuras que servem para que o poeta exerça a sua crítica política e estética ao seu tempo. Ainda sem tradução para o português, La Divinia Mímesis é objeto de estudo, tradução e crítica no programa doutoral em Letras Estrangeiras e Tradução, pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, na Universidade de São Paulo. O objetivo deste minicurso é o de compartilhar os resultados da pesquisa em andamento, difundindo um texto fundamental de seu autor, ainda sem tradução e recepção crítica no Brasil.
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Oficina de tradução: uso das tecnologias dos grandes modelos de linguagem para descrever e desenhar personagens da obra 'O Grande Mentecapto' de Fernando Sabino.
Carlos Antonio de Souza Perini
Mestre UFMG
Maryelle Joelma Cordeiro Mourão
Doutora UFMG
Rennan Neves de Oliveira
Mestrando UFMG
Serão avaliadas as produções dos Large Language Models (LLMs), grandes modelos de linguagem em português, na geração dos equivalentes linguísticos e culturais na tradução de 'O Grande Mentecapto' de Fernando Sabino para o italiano. Para uma tradução, segundo Benjamin (1979, p. 26), "pergunta-se se a natureza da obra permite uma tradução'; além disso, a escolha adequada do signo na língua alvo ou, pela modalidade intersemiótica, na forma de desenhos, gravuras ou ícones deve-se passar por uma análise de recepção pelos nativos para garantir uma boa tradução. Em particular, a obra 'O Grande Mentecapto' de Fernando Sabino, o protagonista Geraldo Viramundo possui uma variedade de apelidos muito extensa: 'Geraldo Viramundo', 'Geraldo Giramundo', 'Geraldo Rolamundo', 'Geraldo Vira-Lata', 'Geraldo Acaba-Mundo', 'Geraldo Furibundo', 'Geraldo Virabosta', 'Geraldo Virabola', entre outros. Isso representa um desafio de tradução da obra como também uma riqueza da diversidade criativa literária do autor e merece ser presenteada para os italianos. Os LLMs traduzem automaticamente e gerar ilustrações, além de poder serem treinados com dados específicos. Por exemplo, ao descrever um personagem em 'prompts', um LLM treinado com o acervo da literatura italiana pode identificar figuras semelhantes na obra traduzida, assim como cenários ou figurinos. Essa complexa tarefa será apresentada e discutida na oficina. As produções das LLMs podem ser "alucinadas" ou "alta qualidade" e serão analisadas sob critérios semânticos e estéticos. A oficina incluirá a avaliação do conteúdo produzido pelas LLMs como adequadas, razoáveis ou impróprias, explorando seus acertos e limitações nessa tradução criativa. Nessa medida, em específico para o caso dos apelidos, pode-se realizar 'prompts' para as LLMS gerar nomes na língua de chegada, como também caricaturas do Geraldo Viramundo podendo, daí, compreender um pouco do funcionamento de tais LLMs, na busca por matizes lexicais ou caricaturais nos desenhos e traduções produzidos por elas.
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