O ITALIANO NO BRASIL E NO MUNDO
O Talian
O Talian é uma língua que teve origem em terras brasileiras. Podemos afirmar que Talian é uma língua e não um dialeto porque, do ponto de vista estritamente linguístico, não existem diferenças entre língua e dialeto, ou seja, tanto a língua quanto o dialeto apresentam fonética, morfologia, sintaxe e léxico específico.
Na verdade, as diferenças que se colocam entre dialeto e língua são unicamente de caráter histórico, político, social e cultural. A língua foi consagrada pela tradição, é algo tipicamente social ligado ao prestígio, ao status e ao consenso. A história de quase todas as línguas da Europa nos demonstra isso. As línguas italiana, francesa, alemã, entre outras, eram, inicialmente, dialetos, ou seja, sistemas linguísticos utilizados em comunidades menores, que alcançaram uma importância sociocultural a ponto de ser promovidas a língua (BERRUTO; BERRETTA, 1977, p. 82).
A língua Talian se forma no Brasil a partir da necessidade de comunicação entre os imigrantes italianos que aqui chegaram falando as mais diversas línguas. O Brasil recebeu imigrantes de várias regiões italianas, em sua maioria, vênetos (BALHANA, 1958). Portanto, é natural que o Talian seja uma língua de base vêneta mesmo que em algumas regiões brasileiras possam existir influências de outras línguas do norte da Itália. É importante ressaltar, entretanto, que o Talian não é a mesma língua falada na região do Vêneto, na Itália. De fato, diferente do vêneto, o Talian teve, e ainda tem, contato com o português brasileiro.
Sendo assim, podemos definir o Talian como uma língua nascida no Brasil, de base vêneta, formada pelo contato linguístico com o português brasileiro e com outras línguas aqui faladas. É uma língua predominantemente oral e falada sobretudo em regiões com presença de descendentes de italianos. Como qualquer outra língua, o Talian apresenta suas variações e mudanças.
O grupo de pesquisa “Centro de Estudos Vênetos no Paraná” – CEVEP- entende que o Talian falado aqui no Brasil pode ser classificado como língua de herança, ou seja, língua com a qual uma pessoa possui identificação cultural e sentimento de pertencimento a determinada comunidade que a usa, seja por laços ancestrais, seja por convivência no mesmo ambiente sociocultural com falantes dessa língua (ORTALE, 2016).
Um fato histórico muito relevante para a língua Talian foi a campanha de nacionalização de Getúlio Vargas na década de 30. Neste período uma série de medidas foram tomadas pelo governo com objetivos de minimizar e diminuir as influências estrangeiras no Brasil. Essa campanha ocorreu durante o regime político do Estado Novo, caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e autoritarismo. Durou de outubro de 1937 até outubro de 1945 e gerou muitas atitudes linguísticas negativas em relação ao Talian que podem ser percebidas ainda hoje (BALTHAZAR,
2016).
Com a publicação do Decreto 7.387/2010, o Talian é reconhecido como Referência Cultural Brasileira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e passa a fazer parte do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL). Vale dizer que nem todos os seus falantes a denominam “Talian”, dentre as diversas nomenclaturas para designar a mesma língua falada aqui no Brasil, podemos encontrar: dialeto vêneto, italiano, vêneto brasileiro, dialeto, dialeto italiano, entre outras. O próprio INDL cita estas e outras denominações. Entretanto, por questões de políticas linguísticas e pensando no fortalecimento da própria língua a nível nacional, os membros do grupo CEVEP também a denominam de Talian.
Outra escolha relevante do grupo CEVEP foi a decisão de escrever o nome da língua com a inicial maiúscula, mesmo conscientes da não necessidade, deve-se, mais uma vez, a uma tentativa de valorização da mesma.
Referências
BALHANA, Altiva Pilatti. Santa Felicidade: um processo de assimilação. Curitiba: JoãoHaupt & Cia, 1958.
BALTHAZAR, Luciana. Atitudes linguísticas de ítalobrasileiros em Criciúma (SC) e região. Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2016. Tese de Doutorado.
BERRUTO, Gaetano e BERRETTA, Monica. Lezioni di Sociolinguistica e Linguistica Applicata. Napoli: Liguori, 1977.
ORTALE, Fernanda.L. A formação de uma professora de italiano como língua de herança: o Pós-Método como caminho para uma prática docente de autoria. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Tese de Livre-Docência.
Luciana Lanhi Balthazar (UFPR)
Para saber mais sobre o CEVEP acesse: http://www.letrasitaliano.ufpr.br/?page_id=116
Vìdeo: https://www.youtube.com/watch?v=kLrhpnsuMsM
Legenda do vídeo: O vídeo aborda, de forma resumida, um pouco da história do Italiano Standard, do Vêneto e do Talian para entender por que estas línguas são diferentes, tendo como base a Sociolinguística. Participam dele as professoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Karine Marielly Rocha da Cunha e Luciana Lanhi Balthazar; e Loremi Loregian-Penkal, professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO). As três docentes fazem parte do CEVEP (Centro de Estudos Vênetos no Paraná).