Propostas aceitas - XX Congresso ABPI (novembro 2023)

TÍTULO DO SIMPÓSIO:

LÍNGUA, IDENTIDADE E MEMÓRIA: "ITALIANIDADE(S)" NO BRASIL ENTRE CONTATOS, CONFLITOS E TRANSFORMAÇÕES

PROPOSTAS ACEITAS (comunicações orais / pôster)

Amar para civilizar, civilizar para amar: o contato entre missionários italianos e indígenas no romance Um rio sem fim, de Verenilde Santos Pereira

Luana Aguiar Moreira (UFAM)

As missões salesianas instalaram-se no interior do Amazonas no primeiro decênio do século XX com o objetivo de transformar o contingente populacional indígena em cidadãos tementes ao Deus cristão. A presença e imposição dos missionários italianos na região implicou no controle espiritual, territorial e social das comunidades indígenas amazônicas e poucos são os registros histórico-literários desse contato pela perspectiva dos povos indígenas, visto que a produção de fontes esteve, em sua maioria, em poder dos missionários europeus. No entanto, a partir das últimas décadas do século XX, ampliaram-se, seja no âmbito artístico ou político, a dimensão de vozes de grupos minoritários, como é o caso de Um rio sem fim (1998), romance de Verenilde Santos Pereira, autora afro-indígena nascida em Barcelos, no Amazonas, e ex-aluna de internato salesiano durante as décadas de 1950 e 1960. Nessa perspectiva, esta comunicação tem como objetivo analisar a representação da relação entre as personagens indígenas e missionários italianos em Um rio sem fim. Observaremos, em nossas análises, sobretudo a figura do bispo Dom Matias Lana, líder religioso na aldeia em que a obra se situa, e como são representados os princípios da pedagogia salesiana (como a amorevolezza) e as estratégias de resistência dos indígenas contra a imposição dos signos cristãos. As abordagens teóricas estarão apoiadas na perspectiva antropológica da mediação cultural de Monteiro (2006) e nos estudos socio-históricos de Costa (2014; 2021), Valente (2017) e Pitillo (2017). Assim, longe de afirmarmos Um rio sem fim como representação factual dos eventos históricos, observaremos, principalmente, como a linguagem literária, sob o olhar de uma autora indígena, representa e desvela as violências, sensibilidades e ambivalências presentes no contato entre missionários e povos indígenas da Amazônia.

PALAVRAS-CHAVE: Migração italiana; Missões salesianas; Amazonas; Um rio sem fim; Verenilde Santos Pereira.

REFERÊNCIAS:

COSTA, Mauro Gomes da. A institucionalização e o disciplinamento de crianças indígenas nas missões salesianas do Amazonas/Brasil (1923-1965). Revista Brasileira de História da Educação, 2021.

COSTA, Mauro Gomes da. Os povos indígenas e as Missões Salesianas do Amazonas: as disputas de poder, as estratégias civilizatórias e a autodeterminação indígena. Tellus, Campo Grande, ano 14, n. 26, jan./jun., 2014, p. 49-74.

MONTERO, Paula. Índios e missionários no Brasil: para uma teoria da mediação cultural. In: ______. (Org.). Deus na aldeia: missionários, índios e mediação cultural. São Paulo: Globo, 2006.

PEREIRA, Verenilde Santos. Um rio sem fim. Brasília: Thesaurus, 1998.

PITILLO, Silvana Assis Freitas. Os salesianos no Brasil: uma visão histórico-reflexiva de um discurso universalizante inconsistente. 2017. 293 f. Tese (Doutorado em História Social) – Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2017.

VALENTE, Rubens. Os fuzis e as flechas: história de sangue e resistência indígena na ditadura. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.