Doris Nátia Cavallari (USP)
Priscila Nogueira da Rocha (UFRJ) - priscila.nogueira.da.rocha@letras.ufrj.br
Sonia Cristina Reis (UFRJ) - sonia.kapps.reis@letras.ufrj.br
RESUMO DA PROPOSTA:
A literatura italiana ostenta em cada século de sua história inúmeras obras escritas por mulheres, porém muitas dessas foram relegadas à margem ou completamente esquecidas. Um dos grandes fatores que gera esse silenciamento deriva da suposta superioridade da escrita masculina e isso, em princípio, ocorreu devido ao caráter mais íntimo da escrita feminina. Visto que grande parte das mulheres não eram autorizadas a circular em espaços públicos, sendo a elas reservado o espaço privado, a casa, primeiramente a do pai e depois a do marido. A circulação de uma grande parcela das mulheres ficava restrita ao ambiente doméstico, especialmente o quarto, como aponta Michelle Perrot (2015), e esse era o espaço utilizado para a escrita de seus diários e cartas. Ligadas às fábulas como instrumentos de educação para os filhos, as mulheres, pouco versadas nos gêneros textuais clássicos, em seus primeiros esboços falavam muito de si, do amor, questionavam e refletiam a própria vida traduzindo em texto o que era íntimo e subjetivo, mas o indizível e o secreto não fascinaram o universo das "autoridades críticas" composto por estudiosos que sentenciaram que o fazer literário feminino carecia de qualidade expressiva. Assim, a figura feminina ficava limitada à representação da visão masculina. A mulher existia, mas era relegada constantemente ao lugar do silêncio e da solidão, pois era frequentemente hostilizada em suas tentativas efetivas de participação no universo social e literário. Anterior à produção literária propriamente feminina, a inserção da mulher e do feminino era lida pela visão e pelo imaginário dos homens, especialmente, como inspiração para os grandes poetas e/ou para representações de discursos parciais, machistas e patriarcais, que determinavam como as mulheres deveriam ser "moldadas"; raras vezes foram autorizadas e reconhecidas como produtoras de textos literários de valor. É no período do Novecento que a mulher vai ganhar maior notoriedade dentro da literatura; no século XX, pode-se observar um crescimento do interesse em redescobrir textos de autoria feminina, bem como de conhecer novas escritoras, cujos textos são relevantes não só por sua biografia como pela atualidade das temáticas abordadas. Elas nos falam tanto da condição da mulher quanto desse longo caminho da emancipação feminina. Seus textos, formulados em denúncias reais ou em gêneros literários tradicionais, traçam uma história feita de discriminação, sofrimento, rebeldia, mas também de consciência, de amadurecimento, de luta pela conquista de um lugar no mundo. Essa estratégia de resgate explora a história literária para além de dados biográficos das autoras, pois examina "como tais narrativas foram lidas pela crítica consagrada, como se encaixam nas correntes de sua época e como estabelecem relações com a literatura de seu tempo" (MUZART, 2011: 22). Este simpósio tem por objetivo reunir pesquisas sobre a produção literária de escritoras italianas, ampliando o debate e abrindo um espaço de diálogo sob a orientação de várias propostas teóricas que fundamentam questões sobre linguagem, memória, identidades, gênero, escritas de si, feminismo, entre outros.
REFERÊNCIAS:
"FERRONI, Giulio, Profilo storico della letteratura italiana, Milano, Einaudi Scuola, vol. 2, 2008.
FOLLI, Anna. Penne leggère. Neera, Ada Negri, Sibilla Aleramo. Scritture femminili italiane fra Otto e Novecento. Italia: Guerini e Associati, 2000.
HOLLANDA, Heloisa Buarque (org.). O feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994
PERROT, Michelle. As mulheres ou os silêncios da história. Trad. Viviane Ribeiro. Bauru,SP: EDUSC,2005.
______________. Minha história das mulheres. Trad. Angela Correa. São Paulo: Contexto,2007.
______________. Os excluídos da história :operários, mulheres e prisioneiros. Trad. Denise Bottmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra,2017.
RAMALHO, Cristina. (org.) Literatura e feminino. Propostas teóricas e reflexões críticas. Rio de Janeiro: Elo, 1999.
SCOTT, Joan. História das Mulheres. In: BURKE, Peter: A escrita da história- tradução de Magda Lopes –São Paulo: Editora da Unesp, 1992.
PALAVRAS-CHAVE:
Cânone literário; literatura feminina, gênero, escritas de si.
Adriana Iozzi Klein (USP) - adriozzi@usp.br
Fabiano Dalla Bona (UFRJ) - fdbona@gmail.com
Iolanda Guilherme Assis da Silva (doutora USP) - iolanda.guilherme71@gmail.com
Roberta Barni (USP) - rbarni@usp.br
RESUMO DA PROPOSTA:
As transformações, hibridações e (re)definições que estão em curso na língua, literatura e cultura italianas fazem parte de um processo contemporâneo ou estão na própria raiz da formação linguística, literária e cultural da Itália? Ao pensar nas origens da literatura italiana, é possível observar um processo de reunião da tradição oral que se estabelece no texto escrito, dando espaço para a consolidação da língua e da ideia de cultura italianas. Esse processo se apresenta marcado pela hibridação, com o plurilinguismo em permanente confronto com a unidade da língua standard. Na literatura em específico, é possível falar de gênero ou de forma livres de hibridações? La vita nuova, de Dante Alighieri, seria um misto de crítica literária e poesia? Ludovico Ariosto, com seu Orlando Furioso, pode ser considerado o pai do romance em versos? O Dialogo sopra i due massimi sistemi del mondo, de Galileo Galilei, é um texto científico ou literário? Operette morali, de Giacomo Leopardi, seria uma grande obra poética em prosa filosófica? Pellegrino Artusi, em La scienza in cucina e l'arte del mangiar bene, escreve receitas? Os ensaios de Italo Calvino pertencem ao campo da crítica ou são obras literárias; e suas obras literárias seriam ensaísticas? O objetivo do simpósio é discutir a ideia da contaminação entre gêneros e formas na literatura italiana partindo de uma consideração de Calvino, enunciada em sua famosa conferência sobre a rapidez, que reconhece nas formas breves "la vera vocazione della letteratura italiana". A forma, como ressalta Menetti (2019, p.13), é hoje uma palavra-chave da crítica contemporânea, além de ser um conceito filosófico que abarcou, ao longo de sua história, diferentes significados de acordo com os modelos teóricos adotados; mas, diferentemente do que ocorre com o gênero literário, que sempre teve um função normativa, ela possui essência anti-normativa e anárquica: "Cercare di ricostruire lo sperimentalismo creativo delle forme brevi della narrativa significa mettere sotto la lente di ingrandimento la sostanza pulviscolare di cui è composta la nostra narrativa d'invenzione, dalle sue particelle più piccole (il motto, la facezia, il bozzetto, la figurina) a quelle grandi (la novella, la fiaba, la favola, il racconto), a quelle ibride (la lettera fittizia, l'istoria inventata, il romanzo epistolare), al di fuori della ripetitiva ricerca di un mito dell'origine della prosa romanesca occidentale" (MENETTI, 2019, p.16). Forma e gênero seriam, assim, conceitos fundamentais para a compreensão das hibridações literárias italianas e discutir a presença do fenômeno no âmbito de sua tradição permite entender a posição da literatura italiana no cânone ocidental, aproximando-a da perspectiva da multiplicidade, abrindo considerações para que se possa pensar a literatura italiana contemporânea como híbrida, uma vez que "o gênero sempre é e não é o mesmo, sempre é novo e velho ao mesmo tempo. O gênero renasce e se renova em cada nova etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de um dado gênero. [...] O gênero vive do presente, mas sempre recorda o seu passado, o seu começo" (BAKHTIN, 2013, p.121).
REFERÊNCIAS:
ASOR ROSA, A. Genus italicum. Saggi sulla identità letteraria italiana nel corso del tempo. Torino: Einaudi, 1997.
BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução direta do russo, notas e prefácio de Paulo Bezerra. 5 ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013.
BERARDINELLI, A. La forma del saggio: definizione e attualità di un genere letterario. Venezia: Marsilio, 2008.
BOLLATI, G. L'invenzione dell'Italia moderna. Torino: Bollati Boringhieri, 2014.
CALVINO, I. Romanzi e racconti. Milano: Mondadori, 2001.
__________ . Saggi 1945-1985. Milano: Mondadori, 1995.
MENETTI. E. La realtà come invenzione. Forme e storia della novella italiana. Milano: Franco Angeli, 2015.
___________. Le forme brevi della narrativa. Roma: Carocci, 2019.
PALAVRAS-CHAVE:
Forma literária, gêneros literários, cânone, literatura italiana, hibridações
Erica Aparecida Salatini Maffia (UFBA) - ericasalatini@ufba.br
Julia Scamparini Ferreira (UERJ) - juliascamparini@gmail.com
RESUMO DA PROPOSTA:
Nas últimas décadas estamos presenciando uma constante reavaliação do cânone literário, por parte da crítica, no que toca à inserção da literatura escrita por mulheres nos manuais literários e nas antologias escolares, sobretudo por influência dos estudos de gênero e da crítica feminista. Da mesma forma, muito se tem discutido sobre a invisibilização e/ou exclusão nesses manuais da produção literária de outros grupos minoritários, questionando-se o conceito de verdade absoluta atribuído aos textos críticos produzidos em determinado contexto histórico, político e social. Neste sentido, as contribuições dos estudos de gênero e da crítica feminista, dentre outras perspectivas "minoritárias", têm dado maior visibilidade a toda uma literatura ignorada pelo cânone, permitindo a (re)análise de textos literários a partir de óticas diferenciadas e categorias analíticas inéditas, assim "incluindo, remodelando, desconstruindo e reconstruindo o discurso historiográfico" (ZANCAM, 2005, p.31). Nesta perspectiva, este simpósio está aberto a trabalhos que deem especial ênfase ao estudo das questões do feminino (autoria feminina, representações do feminino), bem como à literatura produzida por autores pertencentes a grupos minoritários no contexto italiano – sociolinguísticos, raciais, LGBTQIA+, dentre outros –, buscando dar relevância a produções literárias que investiguem, divulguem, discutam e ampliem o que se entende por literatura feminina. Partimos do pressuposto de que não é mais possível confinar "o pensamento crítico feminista ao arcabouço conceitual de uma oposição universal do sexo [...] o que torna muito difícil, se não impossível, articular as diferenças entre mulheres e Mulher, isto é, a diferença entre mulheres ou, talvez mais exatamente, as diferenças nas mulheres" (DE LAURENTIS, 1994, p.207). Não importando de qual perspectiva temporal ou social seja oriunda, interessa-nos a literatura italiana feita por mulheres e grupos minoritários como forma de resistência. Para além de questões que concernem autorias (ainda) não canônicas, interessa-nos refletir sobre as formas como estas literaturas elaboram os traumas individuais e coletivos, como representam os momentos "sofridos e insofridos" da experiência individual, seja pela presença de guerras e de conflitos históricos, seja por situações ligadas aos horrores destes conflitos, como o exílio, o refúgio, o luto e a dor, mas também a violência de gênero e situações de fragilidade, discutindo, por fim, como estes escritos procuram resistir à "falsa ordem, à barbárie, ao caos", ao patriarcalismo, ao sofrimento, "aferrando-se à memória viva do passado" e/ou "imaginando uma nova ordem" que possibilite contradizer "o ser dos discursos correntes" (BOSI, 1997, p.158). Walter Benjamin, em suas teses sobre o conceito de história, nota que "a verdadeira imagem do passado perpassa, veloz. O passado só se deixa fixar, como imagem que relampeja irreversivelmente, no momento em que é reconhecido" (BENJAMIN, 1994, p.224). Para o filósofo, a literatura é capaz de fixar o passado e a história, é elemento de transformação social, documento da cultura, de transmissão da cultura. É nesta perspectiva que este simpósio se propõe a pensar como a literatura escrita por mulheres e por grupos minoritários antecipa e produz, em qualquer tempo histórico, textos de grande importância cultural e ""inquietante força poética"".
REFERÊNCIAS:
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica. Arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Trad. Sergio Paulo Rouanet. 7ª. ed. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1994. (Obras escolhidas, vol.1).
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1997.
DE LAURENTIS, Teresa. A tecnologia do gênero. In: HOLLANDA, Heloisa Buarque (org.). Tendências e impasses: o feminismo como crítica da cultura. Trad. Susana Funck. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. Trad. Coletivo Sycorax. São Paulo: Editora Elefante, 2017.
MELANDRI, Lea. Come nasce il sogno d'amore. Torino: Bollati Boringhieri, 2002.
ZANCAN, M. "Letteratura, critica, storiografia. Questione di genere". In: Bolletino di italianistica. Rivista critica, storia letteraria, filologia e linguistica. NS, Anno II, n. 2, 2005.
PALAVRAS-CHAVE:
Escrita de mulheres, escrita de grupos minoritários, memória, história, resistência
Flora de Paoli Faria (UFRJ)
Fernanda Gerbis Fellipe Lacerda (UFRJ) - fernandagerbis@letras.ufrj.br
Antonio Sorella (Università degli Studi Gabriele D'Annunzio Chieti-Pescara)
RESUMO DA PROPOSTA:
Ler a multifacetada obra do poeta italiano Gabriele D'Annunzio (Pescara, 1863 – Gardone Riviera, 1938) com olhos modernos tem sido o compromisso de importantes críticos e estudiosos do nosso tempo. Sabe-se que o poeta encontrou muita dificuldade de se fazer compreender pelos seus contemporâneos, graças às severas críticas de Benedetto Croce, que tornaram, de certa forma, o Novecento italiano um período antidannunziano (Verdone, 2021). Tanto na Itália como no Brasil, as pesquisas desenvolvidas nos últimos trinta anos sobre a obra dannunziana demonstram como é rico e inédito ainda o repertório de temas que precisam e devem ser abordados no que tange não só a sua produção literária, mas também sua conturbada vida política e pessoal. Assim, há ainda diversas obras a serem abordadas visto que não pertencem ao lugar comum dannunziano, conceitos referentes ao esteticismo finissecular que ainda precisam ser mais examinados, leituras políticas que deveriam ter sido mais trabalhadas, escolhas técnicas de escrita que não foram observadas profundamente e tantos outros instigantes caminhos a serem explorados. Dessa forma, nesta seção temática, propomo-nos a dar espaço a um vasto e importante debate sobre como a obra dannunziana se expande e repercute em tantas outras produções italianas e brasileiras a partir do século XIX e XX, literárias ou não. No âmbito da literatura italiana, indagamo-nos sobre o que há de D'Annunzio nos escritores crepusculares, como Guido Gozzano, herméticos, como Eugenio Montale, futuristas, como Filippo Tommaso Marinetti, e naqueles que contribuíram para as revistas La voce e La ronda, por exemplo. Já na literatura brasileira, quais influências e hibridações podemos notar entre a criação literária do Vate italiano e as de Lima Barreto, Graça Aranha, Coelho Neto, Manuel Bandeira e outros poetas pré-modernistas? É importante ressaltar que esses cruzamentos de temas, técnicas e estéticas, podem ser vistos a partir da relação de D'Annunzio com apenas um poeta ou também com um grupo do qual pertence, assim como é intrigante o atravessamento de uma obra de autoria dannuziana em outra(s) produções contemporâneas ou posteriores ao autor italiano. Para além da esfera literária, estimula-nos também as leituras atuais de estudiosos de outras áreas, como da arquitetura, da ciência política, das artes cênicas, do cinema, do jornalismo, das belas artes, da música e tantas outras que possam enriquecer nossa discussão sobre a atualidade e a presença viva da obra de Gabriele D'Annunzio em diversos campos de pesquisa. Estudiosos e teóricos como Verdone (2021), Hatoum (2021) Gibellini (2018), Giammarco (2005), Edlmayer e Maciel (2004), Veríssimo (1902), por exemplo, servem de ponto de partida para o debate que se propõe para este simpósio.
REFERÊNCIAS:
EDLMAYER, Sabrina; MACIEL, Maria Esther. Textos a flor da tela: relações entre litera tura e cinema. Belo Horizonte: Núcleo de Estudos de Crítica Textual - Faculdade de Letras da UFMG, 2004. 260p.
GIAMMARCO, M. La parola tramata: Progettualittà e invenzione nel texto di D'Annunzio. Roma: Carocci, 2005. p. 121-144
HATOUM, Milton. Espaço e Literatura. São Paulo: Escola da Cidade,01 abr. 2016. Palestra ministrada aos alunos da Escola da Cidade no módulo de estudos sobre Manaus. Disponível em: < http://escoladacidade.org/bau/milton-hatoum-espaco-e-literatura/>. Acesso em 20maio2021.
VERDONE, Alessio. La poesia italiana del Novecento e la funzione d'Annunzio: ipotesi di lavoro. In: Archivio d'Annunzio, volume 8, p.237-252, Edizioni Ca' Foscari, 2021
VERÍSSIMO, José. A literatura de Gabriele D'Annunzio. In Homens e cousas estrangeiras. (1899-1900). Rio de Janeiro-Paris: Garnier, 1902.
PALAVRAS-CHAVE:
Gabriele D'Annunzio; Il novecento italiano; Pré-modernismo brasileiro
Amanda Bruno de Mello (UFSC) - amanda.bruno.mello@gmail.com
Cláudia Tavares Alves (UFJF) - clautalves@gmail.com
RESUMO DA PROPOSTA:
Embora a Itália esteja passando por uma relativa hegemonia conservadora no governo ao longo das últimas décadas, sua intelectualidade de maior destaque, pelo menos aquela que atuava no século XX, apresentava um viés de esquerda, bem como uma notável participação no debate público (SANTURBANO, 2012). Fundamentais para essa esfera pública de reflexões sobre a contemporaneidade eram, sem dúvida, a grande imprensa e os periódicos especializados (ALVES, 2022), com os quais contribuíram desde Antonio Gramsci até Pier Paolo Pasolini, Italo Calvino, Natalia Ginzburg, entre outros pensadores cujas crônicas, ensaios e artigos jornalísticos vêm sendo traduzidos e publicados no Brasil - por exemplo, com os livros Escritos corsários (2020), Não me pergunte jamais (2022) e Os líderes e as massas (2023). Revela-se, desse modo, um interesse particular e recente pela circulação desse tipo de produção italiana no país. Sob outras formas, a reflexão sobre o capitalismo tardio e a contemporaneidade atravessam também a produção de intelectuais italianos em outros gêneros, incluindo a poesia (basta pensarmos em Eugenio Montale e Primo Levi) e também a prosa de ficção (Elsa Morante, Alberto Moravia, Giorgio Bassani, para citar alguns nomes), e em outras mídias, como o cinema e o teatro. Singular é o caso de Dario Fo, por exemplo, pouco publicado no Brasil, mas a cujas peças atores e diretores brasileiros recorreram, no período da redemocratização após a ditadura militar, para pensar a produção de um teatro que desse conta de canalizar as reflexões e os embates políticos daquele período (MELLO, 2022). Vamos assim nos dando conta de que a circulação dessa produção ensaística, literária e artística italiana do século XX se dá, em grande parte, graças à tradução de intelectuais que chegam ao contexto brasileiro por vias e motivos bastante diversos: razões editoriais, afinidades políticas, escolhas pessoais, abordagens acadêmicas, entre outros. O objetivo deste simpósio é, nesse sentido, reunir este material, montando assim um possível quebra-cabeça com essas peças dispersas ao longo da história da recepção da cultura italiana no Brasil. Convidamos a participar desse simpósio todos e todas que se interessem pelas aproximações e pelos distanciamentos entre a experiência intelectual italiana e a brasileira, em especial em relação ao que nos permita tecer reflexões e análises sobre os campos intelectual, artístico e literário, bem como sobre a conjuntura política, social e cultural dos dois países durante os séculos XX e XXI.
REFERÊNCIAS:
ALVES, Cláudia Tavares. Pasolini em polêmica: interlocuções de um intelectual corsário. São Paulo: Nova Alexandria, 2022.
MELLO, Amanda Bruno de. Dramaturgia da tradução: construção dramatúrgica nas traduções brasileiras de Franca Rame e Dario Fo. 2022. Tese (Doutorado em Letras: Estudos Literários) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte.
SANTURBANO, Andrea. Desafios e desenganos intelectuais na Itália moderna. Literatura e autoritarismo, dossiê n. 9, setembro de 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/9149665/Desafios_e_desenganos_intelectuais_na_It%C3%A1lia_moderna. Acesso em: 12 abr. 2023.
PALAVRAS-CHAVE:
Intelectualidade italiana; Tradução; Circulação; Sistemas culturais; Recepção.
Tatiana Fantinatti (UFBA) - traduzionecreativaabpi2023@gmail.com
Silvia La Regina (UFSB/UFBA) -
RESUMO DA PROPOSTA:
No multifacetado contexto em que nos encontramos, de ""Transformações, hibridações e (re)definições em curso na língua, na literatura e na cultura italiana", aqui considerada mais como multiformes culturas, a tradução desempenha evidentemente um papel fundamental e central. Este simpósio, promovido pelos integrantes do grupo PLIT (Grupo de pesquisa em literatura italiana e tradução) do Instituto de Letras da Universidade Federal da Bahia (UFBA), propõe mostrar quais os recursos criativos encontrados pelas tradutoras e pelos tradutores em suas práticas, profissionais e não, relacionadas ao ofício de traduzir textos, quaisquer que sejam sua materialidade e seu gênero. Apresentaremos aqui também nossa concepção de tradução criativa, que corresponderia ao resultado de ações de originalidade nas soluções encontradas de acordo com os objetivos traçados. Neste aspecto, os objetivos desejados para o novo texto já podem pressupor o grau de criatividade que poderá ser empenhado. Assim, acreditamos que com escopos delineados previamente o resultado entregue será mais homogêneo e original. Queremos refletir sobre os conceitos de originalidade; a marca da tradutora e do tradutor e a sua imprescindível visibilidade; a reescrita; as diversas formas de adaptação; a domesticação versus a estrangeirização; a necessidade de atualização da tradução e a retradução, dentre outros. Igualmente é imprescindível considerar com que intensidade as teorias e a prática podem contribuir para desenvolver a criatividade tradutória, e, na mesma esteira, pensar qual a reverberação que as atividades em grupo, como as oficinas de tradução, podem ter na expansão da criatividade. Analisar a tradução no âmbito das culturas de língua italiana, sobre as línguas em uso, as mais diversas línguas minoritárias e suas variações diatópicas e diastráticas, considerando produções de várias nacionalidades nos permitirá abordar, numa perspectiva não etnocêntrica, o movimento da criação e a troca incessante entre tradutor e texto traduzido, entre leitor e tradutor, entre tradutor e autor, numa hibridação de identidades e idiomas que possa refletir a multiculturalidade atual da Itália e da Europa como um todo. Adotando o pressuposto de que "fare uso del linguaggio è già tradurre"" (TERRACINI, 1983, p.11), e que " translation [is] a constitutive factor in cultural formation" (GENTZLER, 2017, p.xii), pretendemos considerar o ato de tradução como a expressão do pensamento e da criatividade em todas as suas formas, esperando que neste simpósio as mais diversas abordagens sejam apresentadas e estudadas, inclusive através de relatos de experiência de tradutores/autores, não só dentro do sistema linguístico como também do intersemiótico.
REFERÊNCIAS:
Gentzler, Edwin (2017), Translation and Rewriting in the Age of Post-Translation Studies, London & New York: Routledge.
Malmkjaer, Kirsten (2020). Translation and Creativity, London and New York: Routledge.
Saftich, Dario (2014). Traduzione, atto di creatività. Ricerche sociali, n. 21, 2014, p. 67-79. Disponivel em https://crsrv.org/wp/wp-content/uploads/2020/03/Dario-Saftich-Traduzione-atto-di-creativita.pdf
Terracini, Benvenuto (1983). Il problema della traduzione. Milano: Serra e Riva.
Venuti, Lawrence (2013), Translation Changes Everything, London and New York: Routledge.
PALAVRAS-CHAVE:
Tradução criativa; visibilidade tradutória; retradução
Angela M. T. Zucchi (USP) - angelazucchi@usp.br
Karine Marielly Rocha da Cunha (UFPR) - karinemarielly@ufpr.br
RESUMO DA PROPOSTA:
As 'transformações' fazem parte da história do Universo, da vida na Terra, da humanidade e, consequentemente, da linguagem produzida pelo homem para se comunicar. Nas últimas décadas, ocorreram muitas transformações nos meios de comunicação, de indivíduo para indivíduo, desde o surgimento da primeira mensagem enviada por via eletrônica, o e-mail, em 1971, até a mobilidade dos aparelhos de comunicação, como notebooks, tablets e celulares, que se tornaram acessíveis, tecnologicamente complexos e completos em seu uso e cada vez mais indispensáveis para a comunicação humana. As 'hibridações' flutuam entre o sentido biofisioquímico da natureza, o conceito abstrato da constituição das palavras híbridas e entre possíveis situações de contato linguístico de onde surgem linguajares híbridos. Com as recentes inovações tecnológicas, acessíveis a um grande número de pessoas, criaram-se variantes na maneira com as quais as pessoas se relacionam profissionalmente, surgindo, então, relacionamentos profissionais 'híbridos', que conciliam práticas tradicionais com formas inovadoras dependentes da tecnologia. Desde o início dos anos 2000, o ensino de línguas já se beneficiava com os conhecidos ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) e, nos últimos anos, as aplicações disponíveis nos dispositivos eletrônicos portáteis deram extensa capilaridade em alcance, abrangência e frequência aos encontros virtuais com videoconferência, viabilizando experiências como Virtual Exchange, Teletandem e diálogos em Intercompreensão (CUNHA et al. 2020; CERVINI & ZUCCHI, 2021). Surgem, então, '(Re)definições' de paradigmas de (con)vivência, de atuação profissional, e multiplicam-se os saberes interdisciplinares que levam, muitas vezes, à ressemantização de unidades lexicais que se amoldam às diferentes realidades de uso. Para o trabalho do tradutor, antes ofício isolado e solitário, as inovações tecnológicas facilitaram a comunicação e troca de conhecimentos em fóruns de discussão, além de oferecer um arsenal de instrumentos que podem auxiliar no processo tradutológico, como as memórias de tradução, dicionários on-line (CUNHA et al, 2022) ou permitir a criação de glossário com as ferramentas de análise lexical utilizadas na Linguística de Corpus (TEIXEIRA & ZUCCHI, 2021). Considerando que o "léxico, saber partilhado que existe na consciência dos falantes de uma língua, constitui-se no acervo do saber vocabular de um grupo sócio-linguístico-cultural" (BIDERMAN, 2001, p.9), este simpósio acolhe pesquisas pertinentes às Ciências do Léxico (Lexicografia, Lexicologia, Terminologia, Terminografia, Fraseologia, Fraseografia, Onomástica e Paremiologia) e/ou inerentes às áreas de Tradução, de Ensino de italiano, de Intercompreensão, de Filologia, de Linguística Histórica e outras áreas que dialoguem com a observação do léxico. As contribuições podem ser relativas à língua comum e/ou de especialidade, bem como a análises comparativas linguísticas ou literárias.
REFERÊNCIAS:
BIDERMAN, M. T. C. Introdução: as Ciências do Léxico. In: OLIVEIRA, Ana Maria P. e ISQUERDO, Aparecida N. (org.) As Ciências do Léxico- Lexicologia, Lexicografia, Terminologia. Campo Grande, MS: Editora UFMS. 1ªed.1998; 2ªed. 2001, p.13-22.
CERVINI, C.; ZUCCHI, A. M. T.; Learning Languages through Intercomprehension: Some Hints on Cultural and Intercultural Competences. In: Junichi Toyota; Ian Richards; Borko Kovačević. (Org.). Second Language Learning and Cultural Acquisition: New Perspectives. 1ed.Newcastle upon Tyne: Cambridge Scholars Publishing, 2022, v. 1, p. 47-64.
CUNHA, K. M. R.; CINTRA, M. C.; FROES, T. Ciao aqui é oi: Aprendizagem de línguas e socialização on-line em tempos de pandemia. REVISTA DE ITALIANÍSTICA, v. 2, p. 44-66, 2020. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/italianistica/article/view/176479 DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.i40p44-66
CUNHA, K. M. R.; GARBADO, D.; MACHIOSKI, F. L.; Eco di una vale – Vocabulário on-line do Talian. (2022) Disponível em: https://ecodiunavalle.com
TEIXEIRA, L. M. A.; ZUCCHI, A. M. T.; Análise de corpora de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde e proposta de um glossário bilíngue. TRADTERM, v. 1, p. 265-293, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/tradterm/article/view/169266 DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.v37p265-293
PALAVRAS-CHAVE:
Ciências do Léxico, Ensino, Tradução, Intercompreensão
Jadirlete Lopes Cabral (UFBA) - jadeca@ufba.br / jadecabral2017@gmail.com
Alessandra Caramori (UFBA) - apcaramori@ufba.br / alecaramori@gmail.com
Adriana Mendes Porcellato (USP) adriana.porcellato@alumni.usp.br
RESUMO DA PROPOSTA:
Enquanto muitas aulas de língua estrangeira ainda são ministradas seguindo modelos relativamente tradicionais, com salas de aula presenciais e livros impressos, os contínuos avanços da tecnologia digital — ao trazerem grandes mudanças na forma como comunicamos — acabam inevitavelmente nos pressionando a rever e repensar o ensino e aprendizagem de um idioma. Um exemplo, amplamente discutido por especialistas em Tecnologias Digitais da Informação e da Comunicação (TDICs), sobretudo pelos impactos provocados tanto no ensino quanto no mercado de trabalho, é o lançamento de chatbots, como o ChatGPT, os quais, com base em modelos de processamento das línguas naturais, podem manter conversações com humanos. A interação homem-máquina por meio das línguas naturais torna-se cada vez mais comum no nosso cotidiano, seja quando pedimos algo a assistentes de inteligência artificial — como Alexa, Siri, Google, dentre outros — seja quando interagimos com chatbots em diferentes sites. Da mesma maneira, interagimos com máquinas quando decidimos traduzir um texto usando a inteligência artificial, para aprender uma língua por meio de aplicativos, ou para treinar estruturas linguísticas por meio de sites que nos dão um feedback automático. A tecnologia também determina a forma como interagimos com outros humanos, como demonstram numerosos estudos, ao longo das últimas cinco décadas, sobre a comunicação mediada pelo computador (CMC). Esse tipo de comunicação, caracterizado pela multimodalidade, tem sido amplamente explorado (SANTAELLA, 2022; MCLUHAN, 1964; LÉVY, 2022, 2003, 2000), mas, por estar sempre em transformação, ainda precisa ser melhor compreendido, sobretudo no contexto acadêmico, oferecendo um leque variado de oportunidades de pesquisa e investigação sobre a língua em uso bem como de processos éticos de utilização de tais dispositivos tecnológicos na educação. Assim, diante de uma redefinição discursiva na forma como interagimos e das transformações operadas pelas tecnologias digitais tanto no modo como pensamos e agimos quanto no modo como ensinamos e aprendemos uma língua adicional, este Simpósio é dedicado às comunicações que tratem do tema, discutindo suas implicações na área da italianística.
REFERÊNCIAS:
LÉVY, Pierre. IEML: rumo a uma mudança de paradigma na Inteligência Artificial. MATRIZes, 16(1), 11-34, 2022. https://doi.org/10.11606/issn.1982-8160.v16i1p11-34
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2003.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. 2. ed. São Paulo: Editora 34, 2000.
MCLUHAN, Marshall. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix, 1969.
SANTAELLA, Lúcia. Neo-humano: A Sétima Revolução Cognitiva do Sapiens. São Paulo: Paulus Editora, 2022.
PALAVRAS-CHAVE:
TDICs; cibercultura; ensino e aprendizagem de italiano como língua adicional; formas do discurso na contemporaneidade
Cristiane Landulfo (UFBA) - cristianelandulfo@gmail.com
Luciane Nascimento Spadotto (doutora USP) - lucianedonascimento@gmail.com
Paula Garcia de Freitas (UFPR) - paulag_freitas@ufpr.br
RESUMO DA PROPOSTA:
Bem se sabe que a realidade do ensino de línguas estrangeiras no contexto brasileiro está muito distante de ser plurilíngue e democrática (GUIMARÃES, 2007; PARAQUETT, 2006; LANDULFO, 2016) e que os cursos de formação de professora(e)s de línguas buscam por espaços e oportunidades para garantir a presença de diferentes idiomas em diferentes contextos educacionais e, em especial, na Educação Básica (GATTI, 2010, BARALDI et al, 2019). Ademais, trabalham com o objetivo de promover uma (trans)formação inicial de qualidade para as/os discentes que, muitas vezes, têm dificuldade em vislumbrar onde irão atuar depois de formada(o)s. Contudo, mesmo com tantas adversidades e limitações impostas por ausências de políticas linguísticas e educacionais includentes, os cursos de Licenciatura em Letras-italiano têm sido palco de ações (trans)formativas e reflexivas que ajudam a inserir a língua italiana em diversos contextos de ensino/aprendizagem. Algumas dessas iniciativas de (trans)formação inicial e continuada de professora(e)s de língua italiana foram relatadas nos livros intitulados "O italiano na esfera pública brasileira: relatos, percursos e experiências de ensino e aprendizagem" (SOUZA e SILVA, 2019) e "Estudos Italianistas: ensino e aprendizagem da língua italiana no Brasil" (ROMANELLI e TORQUATO, 2019), mas há muitas outras, realizadas por professoras, professores, pesquisadoras e pesquisadores dentro, mas também fora do Brasil que desejamos reunir neste simpósio. Diante do exposto, serão bem vindos trabalhos que visam a investigar e (re)pensar tanto a Educação Linguística em língua italiana quanto a (trans)formação docente que vislumbrem a democratização do ensino dessa língua como uma forma de garantir direitos linguísticos e promover a justiça social à população. As questões que orientam este simpósio são: é possível construir coletivamente uma Educação Linguística mais humana, crítica e menos excludente em diferentes contextos educacionais? Quais são os saberes necessários para que as professoras e os professores de italiano possam desenvolver uma prática pedagógica intercultural/decolonial e emancipatória diante de um sistema/mundo colonial/capitalista/patriarcal/sexista/misógino/racista e transfóbico? Por meio de apresentações e relatos pretendemos promover a reflexão sobre iniciativas e práticas pedagógicas para o ensino de italiano em território nacional - mas também fora dele - e, desse modo, fomentar o debate sobre as políticas linguísticas, materiais didáticos, metodologias e perspectivas de ensino e tantas outras questões que permeiam a Educação Linguística em língua italiana.
REFERÊNCIAS:
BARALDI, L. D. ; HASS, J. ; ORTALE, F. L. . Italianando a San Paolo: Pedagogia Pós-Método e trabalho com projetos em uma sala multisseriada do Centro de Estudos de Línguas. In: SOUZA, F.M.; KFOURI-KANEOYA, M.L.C.SOUZA, F.M.; KFOURI-KANEOYA, M.L.C. (Org.). Centros de Estudos de Línguas do Estado de São Paulo: memórias, trajetórias e políticas.. 1ed.Fortaleza: Editora Mentes Abertas, 2019, v. 1, p. 83-100.
GUIMARÃES, E. Política de línguas na linguística brasileira. In: ORLANDI, ENI. P. Política Linguística no Brasil. Campinas, SP: Editora Pontes, 2007.
PARAQUETT, M. As dimensões políticas sobre o ensino da língua espanhola no Brasil: tradições e inovações. In: MOTA, K. e SCHEYERL, D. (Org.). Espaços Linguísticos. Resistências e expansões. Salvador, UFBA, 2006, p. 115-146.
LANDULFO, C. M. C. L. de S. Currículo e formação inicial dos professores de italiano no Brasil: constatações e reflexões, 2016. Tese (Doutorado em Letras) - UFBA, Salvador, 2016. 340 f.
GATTI, B. A. A atividade da carreira docente no Brasil. Estudos e Pesquisas Educacionais. São Paulo: Fundação Victor Civita, nº 1, 2010, p. 139-210
TORQUATO, C. P; ROMANELLI, S. (Orgs.) Estudos Italianistas: ensino e aprendizagem da língua italiana no Brasil. Chapecó: Argos, 2014.
SOUZA, R. F.; SILVA, R. F. (Orgs.) O italiano na esfera pública brasileira : relatos, percursos e experiências de ensino e aprendizagem – Belo Horizonte: CEFET-MG, 2019.
PALAVRAS-CHAVE:
Educação Linguística; lingua Italiana; formação de professores; ensino
Elisabetta Santoro (USP) - esantoro@usp.br
Márcia Rorato (UEL) - rorato@uel.br
Rafael Scabin (doutorando USP) - rafascabin@gmail.com
RESUMO DA PROPOSTA:
Embora com diferenças regionais, é inegável que a presença italiana deixou marcas em quase todas as esferas da vida material e cultural do Brasil. Na língua, na literatura, nas artes, na arquitetura, nas festas populares, apenas para citar alguns exemplos, há manifestações de uma "italianidade" definida a partir de histórias e memórias individuais e coletivas (HALBWACHS, 1990), ligadas - de forma direta ou indireta - à experiência migratória. São histórias de contatos, mas também de silenciamentos e conflitos, que se (re)constroem no modo como cada um dos protagonistas lembra do passado e vivencia sua identidade no presente. A partir desse contexto, inúmeros aspectos estimularam pesquisadoras e pesquisadores dentro e fora do Brasil. No âmbito dos estudos linguísticos e literários, dentre outros temas relativos à migração italiana em território brasileiro, foram investigados: - os efeitos do contato entre línguas, sobretudo nas regiões com um maior número de migrantes italianos (MELLO; ALTENHOFEN; RASO, 2011), que deram origem a novas configurações linguísticas, entre as quais cabe destacar o caso do Talián (BALTHAZAR; PERIN SANTOS, 2021; CUNHA; GABARDO, 2020); - as implicações para o ensino de italiano e para a formação de professores no Brasil, considerando, em especial, as particularidades do italiano como língua de herança (ORTALE, 2016; ORTALE; SALVATTO, 2022); - a escrita literária e jornalística em italiano, nas variantes regionais-dialetais, no estilo dito "macarrônico" ou em português, como uma das formas de expressão de identidade, resistência e representação (RORATO, 1997 e 2007; SCABIN; MAGGIO, 2020); - as peculiaridades da imprensa dirigida à coletividade italiana (TRENTO, 2014), como produção que pode embasar reflexões sobre a vida dos italianos em diferentes momentos históricos e sobre o ethos (VEZZELLI, 2016); - a inclusão da produção literária e jornalística ítalo-brasileira em contextos de ensino-aprendizagem do italiano como LE/L2 como recurso para estimular, entre outros aspectos, a reflexão sobre língua, identidade e interculturalidade (RORATO, 2018/2019). Há também pesquisas que se dedicam às questões diretamente relacionadas à construção da identidade (SANTORO; MAGGIO, 2021), que partem de abordagens pragmáticas e linguístico-discursivas, utilizando como material de análise entrevistas e/ou outros testemunhos da migração (cartas, diários, relatos memorialísticos etc.) e buscando entender quais relações se estabelecem entre o país de origem e o país de destino, também para jogar luz sobre os fenômenos migratórios da contemporaneidade. Nesse quadro, o simpósio se propõe a reunir pesquisadoras e pesquisadores que desenvolvam trabalhos em âmbitos que mantêm relação com as migrações - em particular, a migração italiana no Brasil, mas não só - para promover trocas de ideias e experiências de pesquisa, que, baseadas em perspectivas e abordagens teórico-metodológicas distintas, poderão enriquecer o debate e contribuir para traçar novos caminhos de investigação.
REFERÊNCIAS:
BALTHAZAR, L. L.; PERIN SANTOS, J. M. (2021). Livro didático como ferramenta de política linguística voltada à valorização das variações do Talian no Paraná. In: Simone Beatriz Cordeiro Ribeiro; Wânia Cristiane Beloni. (Org.). Pesquisas em Políticas Linguísticas e Ensino de Línguas. 1ed. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, p. 231-250.
CUNHA, K. M. R. da; GABARDO, D. (2020). Talian: língua negada e (re)conhecida pelos descendentes vênetos de curitiba e região metropolitana. Revista X, vol. 15, n. 6.
FRANZINA, E. (2014). Una patria espatriata: Lealtà nazionale e caratteri regionali nell'immigrazione italiana all'estero (secoli XIX e XX). Viterbo: Sette Città.
HALBWACHS, M. (1990). A memória coletiva. São Paulo: Edições Vértice.
MELLO, H.; ALTENHOFEN, C.; RASO, T. (orgs.) (2011). Os contatos linguísticos no Brasil. Belo Horizonte: Editora da UFMG.
ORTALE, F. L. (2016). A formação de uma professora de italiano como língua de herança: o Pós-Método como caminho para uma prática docente de autoria. Tese de Livre Docência, FFLCH-USP.
ORTALE, F. L., & SALVATTO, G. C. B. (2022). Dai nonni ai nipoti: práticas familiares em língua de herança. Revista de Italianística (44), 162-176.
RORATO, M. (1997). A produção literária em língua italiana em São Paulo (1896-1929) com apresentação de Poker di donne de Lina Terzi e Maschi e femmine al nudo de Vicente Ragognetti. Dissertação de mestrado em Letras. Programa de Pós-Graduação em Teoria literária e literatura comparada (orientadora: L. ZINI ANTUNES), FCL UNESP/Assis.
RORATO, M. (2007). Il Moscone (1925-1961), 36 anos "ronzando e scherzando" com a colônia italiana de São Paulo. Tese de doutorado em Letras. Programa de Pós-Graduação em Literatura e vida social (orientadora: S. M. AZEVEDO), FCL UNESP/Assis.
RORATO, M. (2018/2019). La letteratura dell'immigrazione italiana in Brasile per il contesto d'insegnamento della lingua italiana LS/L2. [Visiting scholar]. Venezia: Dipartimento di Studi Linguistici e Culturali Comparati, Università Ca' Foscari di Venezia.
SANTORO, E.; MAGGIO, G. A constituição do "eu" em entrevistas com descendentes de italianos no Brasil: Tempo e espaço como marcas de memória e identidade, Revista del CESLA. International Latin America Studies Review, No. 27, 2021, p.113-132.
SCABIN, R. C.; MAGGIO, G. (2020). Houve um dialeto ítalo-paulistano?. Revista de Italianística, (40), p. 5-18.
TRENTO, A. (2014). La costruzione di un'identità collettiva. Storia del giornalismo in lingua italiana in Brasile. Viterbo: Edizioni Sette Città.
VEZZELLI, E. (2016). A construção do ethos discursivo na imprensa em língua italiana em São Paulo. O caso de La Difesa. Tese de Doutorado em Letras, Programa de Pós-Graduação em Língua, Literatura e Cultura Italianas (orientadora: E. SANTORO), FFLCH-USP.
PALAVRAS-CHAVE:
Migração italiana; língua; memória; identidade; ensino